Engraçado, enquanto a gente segue nossa sina de forma anônima no meio da multidão, levando nossa arte, as pessoas que nos cercam, quase nunca acreditam em nosso talento, e as pessoas que não nos conhecem quase sempre nos discriminam. Pergunto à vocês: Quantos já não foram chamados de loucos, vagabundos, e outras coisas do tipo, só por ser um simples artista perdido no anonimato?
Cheguei a conclusão que as pessoas só reconhecem como artistas, os atores e atrizes que aparecem na novela das oito, ou o cantor, cantora ou banda, que tem sua música tocada exaustivamente nas rádios, fora isso, mais ninguém é considerado artista, tamanha a discriminação.
Não sei se alguma vez vocês sentiram ou presenciaram alguma manifestação de discriminação contra algum artista desconhecido pela grande maioria, talvez sim, isso é muito comum em barzinhos, onde músicos, sempre desconhecidos, tocam a noite toda como se fizessem mero acompanhamento para um bate-papo informal.
E as peças com atores desconhecidos? A dificuldade de colocar público no teatro se torna quase uma missão impossível. Na maioria das apresentações, o público é formado, na sua maioria, por nossos amigos e familiares, que ao final, nos falam duas ou três palavras de incentivo, mas quase sempre nos aconselham a voltar a vida normal.
Não consigo entender porque o artista que se tornou conhecido do grande público, tem mais valor do que o artista que faz o seu trabalho ainda no anonimato. Talvez a psicologia possa dizer alguma coisa. Quem sabe não é algo sobre o exemplo a seguir. - Fulano está na mídia, eu quero ser igual à ele! É até compreensivo, mas o que não é, é o desrespeito e o preconceito contra os anônimos.
Se a pessoa está ali, se apresentando como artista e você ali, como espectador, subentende que de alguma maneira, você veio prestigiar aquele artista desconhecido, certo? Então eu lhe pergunto: Por que desvalorizar esse trabalho? Neste fim de semana mesmo, presenciei um caso desse. Na escola onde estudam minhas filhas, houve uma apresentação de um grupo de música desconhecido do grande público, que diga-se de passagem, de muito talento, e que foram contratados para a festa do dia dos pais, mas o que ocorreu? Alguns pais, motivo final daquela apresentação, simplesmente discriminaram os músicos, que ali no palco, se empenhavam para passar algo agradável, permitindo que seus filhos, gritassem, corressem, pulassem, de uma tal forma, que me coloquei no lugar daqueles músicos, e me senti muito constrangido. Não tive dúvidas sobre o que escreveria!
O que o artista quer, é simplesmente o reconhecimento de sua arte. Que ele seja respeitado, mesmo que seja um anônimo, porque aliás, naquele instante em que ele se apresenta à você, está deixando de ser anônimo, e se você prestar atenção somente no talento, não desrespeitá-lo, nem discriminá-lo, quando se der conta, vai encontrá-lo trabalhando na novela das oito, ou cantando a sua canção preferida, e aí então, o que você vai mais querer, é que ele lhe dê, um concorrido autógrafo.
O artista é bom quando ele é bom no que faz, não precisa estar na mídia, por isso, quando você for assistir à alguma apresentação de um artista desconhecido, assista-o como se fosse seu fâ número um, pois ele está ali, fazendo aquilo para você.
Paulo Sacaldassy, contabilista, dramaturgo, roteirista, poeta e letrista. Mantenho um blog chamado "poucas palavras" onde posto minhas poesias e alguns artigos. E agora, Colunista do site Oficina de Teatro.
(Retirado de http://oficinadeteatro.com/a-discriminacao-do-artista/ )
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