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quarta-feira, fevereiro 27, 2008
CALE-SE - FESTIVAL DE TEATRO 2008 na recta final

VARIAÇÕES À BEIRA DE UM LAGO
Variações à beira de um lago
de David Mamet
encenação de Carlos Pimenta
música original de Mário Laginha
com André Gomes e João Ricardo
A Companhia de Teatro de Almada estreia na próxima Quinta-feira 28, pelas 21h30, o espectáculo Variações à beira de um lago, de David Mamet, com encenação de Carlos Pimenta, música original de Mário Laginha, cenário de João Mendes Ribeiro, vídeo de Alexandre Azinheira, e interpretação de André Gomes e João Ricardo. O espectáculo estará em cena na Sala Experimental do Teatro Municipal de Almada até 30 de Março, de Quarta a Sábado às 21h30 e Domingos às 16h00 (à excepção de Sexta 21 de Março, em que não há sessão).
Variações à beira de um lago, escrita quando David Mamet era ainda um jovem dramaturgo de 28 anos, usa a mesma técnica dramatúrgica de Pinter — que consiste em esconder as sensações por detrás das palavras e usar a comunicação para pôr em causa o próprio acto de comunicar. Dois velhos judeus quezilentos sentam-se num banco em frente ao Lago Michigan e conversam tanto acerca dos hábitos dos patos, como de outros temas dos quais não sabem absolutamente nada, embora disponham de uma infinita capacidade de especulação cómica para discuti-los. O que acaba por prevalecer nesta peça de teatro é a evidência da amizade que une estes dois homens, o medo que têm da solidão, e a consciência do fim inevitável das suas vidas que se esgotam.
David Mamet nasceu em Chicago em 1947. No início da sua carreira foi actor e encenador. Enquanto escritor obtém os primeiros sucessos com a chamada “Trilogia de Chicago”: Variações à beira de um lago (1976), Sexual perversity in Chicago e American Buffalo. De entre os inúmeros prémios recebidos pelo seu trabalho enquanto argumentista, novelista, poeta e ensaísta destacam-se: o Society of West End Theatre Award (1983), o Pulitzer Prize (1984), o Dramatists Guild Hall-Warriner Award (1984) e o American Academy Award (Óscar), em 1986. David Mamet escreveu, até à data, vinte e duas peças de teatro, catorze argumentos para cinema, seis ensaios, duas novelas e um livro para crianças.
TEATRO ARADO apresenta
Comemorando o Dia Mundial do Teatro, o TEATRO ARADO vai apresentar no Cine-Teatro Brazão, em Valadares, Vila Nova de Gaia, de 27 a 29 de Março, pelas 21,45 h, a sua nova produção
AS HISTÓRIAS DO SR. KEUNER
Poema de E. E. CUMMINGS

que se lixe a literatura
queremos uma coisa com sangue na guelra
piolhosa com pura
fedendo com absoluta
e destemidamente obscena
mas deveras limpa
estão a ver
não estraguemos a coisa
façamos a coisa a sério
qualquer coisa de autêntico e delirante
percebem qualquer coisa de genuíno como uma marca
numa retrete
agraciada com gana e esganada
com graça”
apertem os tomates e abram a cara
Jorge Fazenda Lourenço para a edição bilingue xix poemas, da
Assírio & Alvim
MORREU RUBENS DE FALCO

BABINE em digressão

terça-feira, fevereiro 26, 2008
«ART'IMAGEM» NO PARQUE NASCENTE

No âmbito da programação idealizada pelo Centro Comercial Parque Nascente intitulada “365 dias de animação”, o TEATRO ART’ IMAGEM irá apresentar durante o mês de MARÇO, às quintas-feiras, pelas 20:30, na praça da restauração do centro comercial Parque Nascente
dia 6 Março: As Árvores também respiram !
Imagine que está a jantar ou a passear e é surpreendido ao ver árvores que se movem e respiram !... Imagine também que essas árvores, além de declamarem poesia e produzirem melodias silenciosas, lhe oferecem frutos !.... Esta performance só é possível acontecer no Parque Nascente, onde a imaginação e a criação não tem limites !
dia 13 Março: Salão In-Estética de Madame Gaby
Duas cabeleireiras tresloucadas e fofoqueiras invadem o Parque Nascente com as mais actuais criações estilísticas. É a oportunidade para os mais descabelados ficarem bem atados e os cabelos mais teimosos ficarem bem jeitosos ! O seu look irreverente não vai deixar ninguém indiferente...
dia 20 Março: Mulher Executiva que sonha ser Bailarina
Uma mulher opta por uma carreira de sucesso mas... o seu sonho sempre foi ser bailarina.
A sua cabeça vive dividida entre os negócios e a música que ecoa, levando o seu corpo a movimentos consecutivos pois a dança vive dentro de si. Ela vive num mundo muito próprio... de impulsos incontroláveis !
dia 27 Março: O Capuchinho Vermelho, a Avózinha, o Lobo e talvez o Caçador !
Uma divertida estória adaptada a partir de uma versão dos Irmãos Grimm de um conto transgeracional.
O Capuchinho Vermelho é assim representado por quatro actores numa criação muito livre, que valoriza essencialmente a plástica e a interacção com o público...
Relembra-se que o “projecto 52 cenas in-visíveis” é um formato in door que utiliza as mais variadas técnicas teatrais que vão do teatro físico, à pantomima passando pelo teatro invisível ou pelo teatro móvel, aliadas às técnicas de clown ou ainda à performance e instalação. Com esta palete de linguagens e estéticas pretende-se cativar, surpreender e divertir desde os mais novos até aos mais velhos ou o mais distraído dos espectadores, apostando no inesperado e no insólito, no cómico ou no dramático, no belo e no grotesco, no real e no imaginário. Neste projecto participam artistas de diversas áreas (actores, músicos, artistas plásticos e designers).
quarta-feira, fevereiro 20, 2008
O TEATRO NA ANTIGUIDADE - 4 (continuação)

Primeiras manifestações teatrais nas civilizações da Antiguidade
Mesopotâmia
Foi graças à chegada dos Sumérios à Mesopotâmia, por volta de 4.000 a.C. que despontou a literatura naquela região. Por isso é comum dizer-se que A História começa na Suméria, precisamente o título da obra mais conhecida de Samuel Noah Kramer.
As múltiplas criações literárias sumérias indiciam uma preocupação clara de registo dos avanços do conhecimento obtido pelo seu povo e é na sua literatura que encontramos os primeiros paralelos bíblicos, como a luta entre dois irmãos, a crença na moldagem em barro do primeiro homem, a descrição de um Dilúvio que dura sete dias e sete noites e para o qual Utnapischtim, o «primeiro Noé», se precavê por ordem do deus Ea, construindo uma barca.
É também na literatura suméria que pode ver-se a primeira narrativa da ressurreição, a concepção de um paraíso e de um inferno de onde se não regressa, ou mesmo um código legislativo, as leis de Ur-Nammu,
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Nos muitos textos já descobertos e outros que continuam a aparecer ou a serem decifrados, podem ver-se imensos provérbios e fragmentos de textos épicos, bem como as disputas literárias, sobretudo estas últimas, pela forma dialogada que opõe os conceitos dos contendores, indiciando já o embrião de um desenvolvimento que mais tarde daria lugar à produção de obras poéticas de conteúdos mitológicos e épicos de grande envergadura estilística e intelectual.
A prova da imensa riqueza e diversidade criativa da sua literatura ficou bem patente após a descoberta da biblioteca do monarca assírio Assurbanípal (668-627 a.C.), na cidade de Nínive, na margem esquerda do rio Tigre, rigorosamente organizada, e que foi a mais antiga biblioteca da humanidade, tendo chegado até nós cerca de 25.000 placas e fragmentos.


Os estudos e as descodificações da escrita encetadas por investigadores estão longe de estar concluídas, tal a profusão de vestígios arqueológicos que repousam ainda nos laboratórios além dos que continuam ainda hoje a ser descobertos, pelo que não é de admirar que mais cedo do que se pensa, venhamos a possuir novos e importantes referências. Tal como nada nos impede de pensar que trechos do Gilgamesh (e de outras obras) tivessem sido representados.

terça-feira, fevereiro 12, 2008
ART'IMAGEM APRESENTA BABINE, O PARVO

Teatro Art’ Imagem apresenta Babine, o parvo na Quinta da Caverneira, Águas Santas
Esta temporada de representações insere-se num protocolo de colaboração cultural entre a Câmara Municipal da Maia e o Teatro Art' Imagem com vista à dinamização do auditório da Quinta da Caverneira
Sendo um espectáculo para todos, a temporada contempla sessões para o público em geral e sessões para grupos escolares:
para o público em geral: dia 16, sábado, às 21h30 / dia 17, domingo, às 16h00 / dia 22, sexta, às 21h30
para grupos escolares: do dia 18 ao dia 22, com sessões diárias às 10h00 e às 14h30.
Inf e bilheteira: 22 208 40 14 ou 96 020 88 19
Sobre o espectáculo:
A encenação pretendeu recriar a atmosfera de uma mítica “alma russa”, desde a música às danças e guarda-roupa, criando-se uma variedade de jogos teatrais para acompanhar um texto minimalista e repetitivo, como sempre acontece com estas histórias de exemplo. (Um parvo houve por bem / Ir correr a Rússia a fundo / Para ver se via o mundo / E dar nas vistas também..)"
Em paralelo com o jogo de actores, desenrolam-se duas diferentes narrativas audiovisuais: a primeira, com pequenos filmes e slides onde desfilam cenários, lugares e situações por que passa Babine na sua viagem pela paisagem e história russas; a segunda, partindo das pinturas de Chagall, Kandinsky e Malevich, para se chegar à criação de um ambiente encantatório, levando os espectadores a acompanhar a acção como estivessem a vê-la através de um caleidoscópio. (E lá vai Babine de terra em terra, calcorreando os vastos caminhos da Rússia que, como todos sabem, não é só um país mas muitos países juntos, à procura de outros lugares e gentes passando pelas mais inesperadas situações).
O nosso herói quer fazer novas amizades mas nunca encontra as palavras certas para que os desconhecidos aceitem de bom grado a sua presença, dizendo sempre coisas inconvenientes e desadequadas ao momento. A sua mãe, mulher e irmã estão sempre a pregar-lhe sermões e a dar-lhe conselhos, depois de cada situação desagradável por que passa. Babine toma nota deles para segui-los mais tarde. Só que os utiliza em situações diferentes e que requeriam outros procedimentos, gerando novas complicações...
Mas, à sua custa, Babine, acaba por entender que tem de saber pensar pela sua própria cabeça. E ao contrário da história popular que acaba com a sua morte, pode dizer no final “ontem fui parvo, pois fui, não o serei nunca mais” e continuar vivo.
Para esta peça que vos apresentamos, convocamos León Tolstoi, um nome maior da Literatura Universal e Luíza Neto Jorge, uma voz singular da nossa poesia contemporânea. “Babine, o Parvo”, sendo de poucas palavras, é um espectáculo quase bilingue, com textos falados em russo, em homenagem à história, cultura, literatura e língua russa e também às comunidades imigrantes que connosco vivem e trabalham. Um pretexto também para falar de acontecimentos históricos, movimentos e personalidades artísticas do teatro e do cinema, da música e da dança, da pintura e da literatura, que influenciaram o mundo em que vivemos
Teatro Art' Imagem
UMJ PORTO CAMILO

UM PORTO CAMILO
Trata-se de uma espectáculo baseado na obra de Camilo Castelo Branco, O QUE FAZEM MULHERES, numa adaptação e encenação de Alfredo Correia.
sexta-feira, fevereiro 01, 2008
O TEATRO NA ANTIGUIDADE (Continuação - 3)

Na fase que antecede a escrita, apenas nos é possível detectar o local ou locais onde ele seria representado, e mesmo neste caso, através da via da tradição oral, também ela um registo falível, mais tarde gravado em documentos escritos e, logo, redigidos em consonância com o que se ouviu e... com o que se imaginou.
Os historiadores do teatro contraíram, porém, uma dívida para com a Antropologia Cultural. É que graças a esta disciplina do conhecimento e aos estudos da Etnografia Comparada é hoje possível, com relativa garantia, percebermos como teria surgido o teatro.
Provavelmente teremos de remontar aos rituais do homem «primitivo» quando, em redor do fogo, dançando e gesticulando, implorava o favor das divindades totémicas para o êxito na caça, para os bons auspícios dos recém-nascidos, para uma «vida» tranquila após a morte. E mais tarde, colocando mesmo disfarces, usando máscaras, fazendo mímica, comunicando algo como expressão colectiva do clã ou da tribo, individualizando-se no seio da comunidade, «vestindo» uma identidade de circunstância tornava-se, sem o saber, o primeiro actor da história do teatro.
A peça representada por Baratha narrava a história do conflito entre os deuses e celebrava a vitória final destes. Deuses e humanos ficaram encantados com o espectáculo. Mas os demónios, que faziam parte do público, ficaram profundamente chocados. Interromperam, pois, a representação teatral e utilizaram os seus poderes sobrenaturais para paralisar a palavra, os movimentos e a memória dos actores. Em resposta, os deuses atacaram os demónios e mataram alguns deles.

Seguiu-se uma luta violenta. Então, Brahma, o Criador, aproximou-se dos demónios para lhes falar. O Teatro, explicou ele, é a representação do estado dos três mundos. Incorpora os fins éticos da vida — o espiritual, o secular e o sensual —, suas alegrias e tristezas. Não há sabedoria, arte ou emoção que nele não se possa encontrar. (Templo de Baratha na Índia)
Depois pediu a Baratha para o espectáculo prosseguir».
ENTRE A PIEDADE E A INDIGNAÇÃO - UM CASO DE PLÁGIO !

substantivo masculino
o m. q. plagiato; cópia fraudulenta do trabalho de outrem que um autor apresenta como sua>
Já fatigado, parei. Não, não estava cansado pela observação feita, mas pelo crescer de indignação que me invadia. Mas passemos ao cerne da questão.
Ao passar os olhos por uma pequena obra (cerca de 90 páginas) que se assumia como ajuda para a técnica do actor, assaltou-me a estranha sensação de déjà vu!
Esta obra era da «autoria» de um amigo meu!
Busquei, então, obras que tratavam da mesma matéria. E encontrei
Cerca de 30 anos antes, um notável poeta e combatente antifascista, que se vira obrigado ao exílio, (infelizmente já falecido) publicara uma obra sobre o mesmo tema e com título semelhante.
Fui lê-la: lá estava a explicação:
Grande parte da obra do meu «amigo» fora COPIADA daquela. E onde, na original, aparecem citações com aspas e mesmo referências a outros autores de que se serviu, nesta cópia grosseira e oportunista essas citações e referências foram simplesmente banidas. Páginas e páginas inteiras foram literalmente copiadas e só não as contabilizei porque cheguei a uma altura em que já não aguentava mais a DESILUSÃO e o DESGOSTO!
É que com amigos assim, que cobram publicações com o trabalho alheio, já não preciso de inimigos!
Perguntar-me-ão: então não divulgas os nomes?
Não. O plagiado já faleceu. O plagiador, já entrado na idade, felizmente está vivo e passeia-se por aí com o ar mais feliz deste mundo.
Ele que continue pavoneando-se. Talvez a consciência o morda, um dia.
Mas não mais voltarei a olhá-lo com os olhos de antigamente.
FERNANDO PEIXOTO
sábado, janeiro 19, 2008
CALE-SE - FESTIVAL DE TEATRO 2008


sexta-feira, janeiro 18, 2008
DO ANIMISMO À MAGIA ( ii )
Para o homem primitivo, as forças ocultas que pareciam manipular a natureza constituíam enigmas e ameaças que importava decifrar e atenuar. Daí a crença nos deuses ignotos que tudo controlavam e tornavam o homem indefeso perante os seus imensos e desconhecidos poderes, perante as suas «fúrias». A tribo buscava então aplacar essas «iras» através de rituais e sacrifícios que pudessem «acalmar a fúria dos deuses». Noutros casos, implorava mesmo os seus favores para caçadas ou batalhas.
Dos múltiplos mistérios da existência, a Morte era o maior de todos os inimigos (e enigmas) do Homem, parecendo espreitá-lo em cada sombra da floresta, em cada precipício, em cada predador. Mas eis que ele descobre o Fogo e com isso dá um passo gigantesco no seu desenvolvimento. Modifica substancialmente a sua dieta alimentar, com isso provocando significativos avanços no seu desenvolvimento. O poder do fogo permite-lhe ainda afastar os animais selvagens, defender-se das suas ameaças e até atacá-los, vencer o frio, partilhar em colectivo o ambiente agora mais acolhedor da caverna. Esta era, sem dúvida, a mais importante dádiva dos deuses a que ele tinha de responder com a gratidão de quem está consciente do bem que adquirira.
A religião terá nascido como consequência de tudo isto, do medo e da necessidade de o vencer, da consciência da existência de forças tão poderosas como desconhecidas e da imprescindibilidade de as aplacar, do apelo ao favor dessas forças, do apelo ao sucesso nas caçadas, do apelo à sobrevivência na luta constante para prolongar a Vida retardando a Morte.
Ele já está consciente de que isolado é frágil e vulnerável, mas em grupo pode ultrapassar muitas das suas fraquezas e dificuldades. E se isto é verdade na luta pela sobrevivência, torna-se igualmente verdade no culto às divindades. É importante que o grupo se proteja e por isso encontra formas de, colectivamente, gerir a sua comunicação com os deuses: nasce o ritual mágico, no qual ele mima o homem, os animais, os elementos, recorrendo ao gesto, à voz, ao corpo, à dança, pintando-se ou mesmo mascarando-se. Mima cenas do seu quotidiano, grita, gesticula, dança, canta, em suma: comunica com os deuses. Este ritual, que não é ainda teatro, irá mais tarde assumir contornos que o levarão posteriormente ao «espectáculo», em rituais que já possuem «coreografias», que já integram «personagens» representando diferentes papéis na comunicação religiosa.
Será, pois, com os primeiros actos de religiosidade que nascerá o espectáculo teatral. O teatro aparece pela via da representação gestual e oral de passagens dos livros sagrados. No Egipto como em Creta, na Mesopotâmia como na Palestina, na Índia como na Grécia, as primeiras manifestações teatrais terão nos mitos e nos deuses a sua primacial motivação. Mesmo na Idade Média, o teatro só logrará trilhar os caminhos do profano depois de se autonomizar das representações litúrgicas de cenas bíblicas.
quarta-feira, janeiro 09, 2008
O TEATRO É ANTERIOR À HISTÓRIA ? ( I )

«A Arte é a ideia da obra, a ideia que existe sem matéria» -Aristóteles
A imitação terá sido então, com toda a probabilidade, o primeiro lampejo de inteligência desse ser que, via australopithecus, se tornou o homo erectus e, bem mais tarde, o sapiens que hoje somos.
Mas a evolução é um fenómeno de longa duração. Milhões de anos decorrerão até que surja o homem primitivo, já então detentor de imensos recursos comunicativos, sem os quais lhe teria sido impossível sobreviver. Sem esses mecanismos comunicativos, sem a interajuda que lhe é proporcionada pelos que com ele coabitam, a sua fragilidade face ao ambiente difícil em que se desenrolava a sua existência condená-lo-ia desde logo à extinção. Por isso, só poderia superar as dificuldades que se lhe deparavam mediante o apoio numa comunidade e na solidariedade do grupo. Mas a vivência em comunidade implica sempre a necessidade de comunicação e esta, por sua vez, obedece a regras, a uma «semântica» que é suposto ser dominada pelo grupo, sem o que a comunidade não subsistirá.
O nosso homem primitivo comunica ainda por sons e por gestos, utiliza primeiramente o seu próprio corpo, cria a «semiótica» do gesto, improvisa sons com o seu aparelho fonador, torna-se receptor às mensagens do grupo, através das mecânicas visual e auditiva.
É óbvio que nesta fase ─ quase instintiva ─ o homem primitivo reproduz já emoções, reflecte, por imitação, os perigos circundantes, exorciza os medos, comunica com os deuses e tenta influenciá-los em seu favor. O rito do grupo ou do clã torna-se uma forma necessária para vencer as suas próprias fraquezas, integrando a força e a dinâmica do colectivo na superação da fragilidade individual.
Pela via da mímica, do gesto, do canto, da dança, o sonho humano da auto-superação vai ganhando consistência e o homem aprende a conviver com o perigo, a enfrentá-lo e a vencê-lo. Graças, como vimos, a um conjunto de recursos que grosso modo podemos identificar como os alicerces da expressão dramática.
Dia após dia descobre novas potencialidades, recorre às mais variadas formas expressivas, interroga o espaço que o envolve e aprende lentamente a integrar-se no meio, com ele se solidariza e dele recebe a necessária contrapartida do conhecimento, através de um complexo fenómeno de sociabilização, sem o qual a evolução da sua espécie estaria irremediavelmente comprometida.
A História do Teatro confunde-se com a própria história da evolução do Homem.
Antes do aparecimento do Teatro escrito e com regras perfeitamente definidas, já o ser humano havia ensaiado acções dramáticas no seu quotidiano de itinerância, nas preparações das caçadas, na vivência em pequenas comunidades ou nos rituais com que exorcizava medos ou formulava desejos e apelos aos seres ignotos que «comandavam» o destino dos homens.
O desconhecimento dos fenómenos naturais (o dia e a noite, as chuvas e as tempestades, as secas e as glaciações, a vida e a morte) careciam de explicações e a imaginação humana era suficientemente criativa para encontrá-las: certamente eram forças poderosíssimas as responsáveis por estes fenómenos e havia que aplacar a fúria dos elementos, invocando o favor dessas entidades misteriosas.
Sabe-se que a tendência do homem para a imitação é algo de inato e as próprias crianças iniciam o seu desenvolvimento imitando o mundo que as envolve. O Homem primitivo não seria por certo muito diferente, e a comunicação que estabelecia com os outros seres da comunidade ter-se-ia iniciado pela linguagem gestual, balbuciando primeiro alguns sons, depois articulando-os num código que acompanhava o gesto e assim tornava possível codificar a mensagem que pretendia transmitir.
O som da sua voz e os gestos do seu corpo tornavam-se, pois, importantes ferramentas na convivência do clã.
Há pois que perceber que «Expressão Dramática» e «Teatro» não são a mesma coisa, embora a primeira possa ─ e é normal que assim suceda ─ conduzir à segunda. Se observarmos atentamente os primeiros passos expressivos de uma criança, apercebemo-nos sem dificuldade que as suas necessidades de comunicação e de exteriorização dos sentimentos passam por exibições expressivas a que, sem pejo, chamaríamos de «paradramáticas».
Também o homem primitivo terá «ensaiado» algumas formas de expressão e com elas terá «jogado» o seu destino, individual e colectivo, na luta pela sobrevivência.
As comunidades primitivas aprendiam a defender-se cada vez melhor da natureza, tantas vezes hostil, que os rodeava. Mas também da fúria predadora dos animais. Ou, ainda, da agressividade de outras comunidades que disputavam territórios ou frutos de caçadas. Esta aprendizagem passava já pela percepção da necessidade da coordenação de movimentos e de esforços ensaiados previamente.
O homem «mima», o homem «joga», o homem «ensaia» formas de se defender e de atacar.
A expressão dramática surge, assim, de forma natural e impulsionada pelo instinto. Depois veio a consequência natural dos resultados obtidos com estas aprendizagens.
É hoje reconhecido que a expressão dramática constitui realmente um veículo privilegiado de aprendizagem não apenas da arte dramática, mas igualmente dessa outra arte maravilhosa que é a da sociabilização.
Ora, a arte dramática é algo de imprescindível para consolidar a educação, como o reconheceu Leon Chancerel quando salientou a sua capacidade para «munir os seus participantes de um conjunto harmoniosamente distribuído de qualidades intelectuais, corporais e morais capazes de assegurarem um desenvolvimento espiritual e físico no seio da grande comunidade humana».
Quem não reserva em si resquícios e recordações da infância? E nesses pedaços nostálgicos, quantas vezes não está também a necessidade da metamorfose, como diria Nietzsche que, na infância, nos impelia com prazer para os jogos de faz-de-conta?
A expressão dramática, não sendo apenas um jogo de faz-de-conta, até porque nela entram também valores e exigências que não são somente as da atmosfera da infância, mantém desse jogo a característica essencial, ou seja, a transmutação. E é precisamente aqui que reside uma das pedras angulares do jogo dramático, precisamente aquela que, em termos educativos, melhor pode proporcionar o clima da aprendizagem.
Terá sido mais ou menos assim que terão nascido as primeiras manifestações, na caverna do paleolítico como, mais tarde, no povoado cercado das comunidades neolíticas.

Embora acreditemos que o gesto precedeu a oralidade, parece-nos que o verdadeiro «jogo dramático» só se materializa de forma consciente e organizada quando o gesto surge como complemento intencional da oralidade e da comunicação. A mímica, a pantomima e a dança fariam o resto. E gradualmente se foi operando um desenvolvimento aos mais variados níveis: da expressão oral se passou à expressão corporal.
sábado, dezembro 15, 2007
TEORIA TEATRAL

sexta-feira, dezembro 14, 2007
RECADO PARA QUEM TEM ORELHAS


DOIS NOVOS SUCESSOS DA CONTACTO - OVAR


Se A FARSA DO MESTRE PATHELIN nos faz revisitar um dos mais belos textos (medieval e de autor anónimo) da dramaturgia mundial, O PRÍNCIPE E A ANDORINHA, inspirado no Príncipe Feliz, de Óscar Wilde (figura que Ramos Costa encarna maravilhosamente durante o espectáculo) remete-nos para um mundo de infância onde a ilusão se mistura com os mais ternos valores humanos.
TEATRO NA ESAP

sexta-feira, novembro 30, 2007
TUNA REGRESSA AO «BOM» TEATRO


Toda a gente embirra ...Até os mortos. A Birra do Morto é uma comédia de Vicente Sanches e tem muito de real. Mostra um pouco da nossa sociedade, com o cinismo de uns, o interesse de outros e a falsidade da maioria. O certo é que mesmo contra a sua vontade, a sua morte era do interesse de todos, incluindo do próprio padre. Qual a maior birra? A do morto que se recusa a ser sepultado, ou a dos outros que querem que ele seja? Não devemos esquecer que o morto além de sofrer de claustrofobia e de ter medo de fantasmas, tem sérias duvidas sobre as causas das posições insólitas em que por vezes os esqueletos são encontrados, se resultam da simples pressão sobre os ossos, exercida pelos gases, ou se eles terão feito tentativas desesperadas para saírem dos caixões. Caríssimos irmãos: e nada mais vos tenho a dizer.