Eis um espaço de partilha para gente que se interessa por teatro e outras artes. Podemos e devemos partilhar: fotos, reflexões, críticas, notícias diversas, ou actividades. Inclui endereços para downloads. O Importante é que cada um venha até aqui dar o seu contributo. Colabore enviando o seu texto ou imagem para todomundoeumpalco@gmail.com

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

O TEATRO NA ANTIGUIDADE - 4 (continuação)

Mapa da Mesopotâmia
Primeiras manifestações teatrais nas civilizações da Antiguidade
Mesopotâmia




Foi graças à chegada dos Sumérios à Mesopotâmia, por volta de 4.000 a.C. que despontou a literatura naquela região. Por isso é comum dizer-se que A História começa na Suméria, precisamente o título da obra mais conhecida de Samuel Noah Kramer.
As múltiplas criações literárias sumérias indiciam uma preocupação clara de registo dos avanços do conhecimento obtido pelo seu povo e é na sua literatura que encontramos os primeiros paralelos bíblicos, como a luta entre dois irmãos, a crença na moldagem em barro do primeiro homem, a descrição de um Dilúvio que dura sete dias e sete noites e para o qual Utnapischtim, o «primeiro Noé», se precavê por ordem do deus Ea, construindo uma barca.
É também na literatura suméria que pode ver-se a primeira narrativa da ressurreição, a concepção de um paraíso e de um inferno de onde se não regressa, ou mesmo um código legislativo, as leis de Ur-Nammu,
Ur Nammu (2113-2095)

primeiro rei da 3.ª dinastia de Ur (2112-2003 a.C.), elaborado, portanto, antes do célebre Código de Hamurábi e igualmente anterior ao Decálogo de Moisés.
Nos muitos textos já descobertos e outros que continuam a aparecer ou a serem decifrados, podem ver-se imensos provérbios e fragmentos de textos épicos, bem como as disputas literárias, sobretudo estas últimas, pela forma dialogada que opõe os conceitos dos contendores, indiciando já o embrião de um desenvolvimento que mais tarde daria lugar à produção de obras poéticas de conteúdos mitológicos e épicos de grande envergadura estilística e intelectual.
A prova da imensa riqueza e diversidade criativa da sua literatura ficou bem patente após a descoberta da biblioteca do monarca assírio Assurbanípal (668-627 a.C.), na cidade de Nínive, na margem esquerda do rio Tigre, rigorosamente organizada, e que foi a mais antiga biblioteca da humanidade, tendo chegado até nós cerca de 25.000 placas e fragmentos.
Assurbanipal


Embora nada se conheça sobre a existência de teatro na Mesopotâmia, sabe-se que teve uma literatura muito desenvolvida, sobretudo em obras de culto religioso, onde aparecem já diálogos, tal como se pode ver na célebre epopeia de Gilgamesh.


Gilgamesh


São bastantes as afinidades entre lendas e versões dos deuses mitológicos sumérios e aquelas que mais tarde viremos a encontrar, tanto no Velho Testamento como na própria mitologia grega, revelando-nos a inegável influência e difusão da cultura suméria.
Os estudos e as descodificações da escrita encetadas por investigadores estão longe de estar concluídas, tal a profusão de vestígios arqueológicos que repousam ainda nos laboratórios além dos que continuam ainda hoje a ser descobertos, pelo que não é de admirar que mais cedo do que se pensa, venhamos a possuir novos e importantes referências. Tal como nada nos impede de pensar que trechos do Gilgamesh (e de outras obras) tivessem sido representados.


Fragmento da epopeia de Gilgamesh


FERNANDO PEIXOTO

7 comentários:

Isamar disse...

Um post interessantíssimo, à semelhança de todos os outros que tens publicado. É , sem margem para dúvidas, um excelente serviço público este que nos vens prestando. Destinado a um público alvo reduzido não obsta que outros o não leiam e não venham a interessar-se. Desta vez, fazes referência a uma obra que li há muitos anos " A História Começa em Sumer" recomendada pelo meu professor, José Mattoso, filho de outro grande historiador com o mesmo nome. A riqueza literária dos sumérios, cuja escrita cuneiforme, foi decifrada permite, certamente,um conhecimento mais aprofundado desta civilização que se desenvolveu junto de dois grandes rios. o Tigre e o Eufrates.
Continua, Fernando a proporcionar-nos estes bons momentos de leitura. Tenho lido atentamente todos os teus posts embora não os tenha comentado. Um dia destes, fá-lo-ei, com todo o gosto.
Beijinhos

São disse...

Interessantíssimo, amigo!
Que pena não seres Ministro da Cultura!!
Um abraço bem grande.

Anónimo disse...

Querido Fernando
Tive muito prazer ao ler este post,gosto imenso de história.
Obrigado por estes excelentes posts que tu nos ofereces,prova do teu grande saber.
Parabéns por teu excelente trabalho e tua dedicação ao teatro.
Beijos
Rosa

Todo o mundo é um palco disse...

À São:
«Que pena não seres Ministro da Cultura!!»
E eu respondo:
Que felicidade não o ser! Grande parte dos políticos deste país enojam-me, porque conspurcam algo que devia ser belo, nobre e transparente: a POLÍTICA, enquanto «arte» de governar a Polis
Fernando Peixoto.

Todo o mundo é um palco disse...

À Rosa:
Minha querida!
Sei que é «a voz do sangue» que orienta as tuas palavras. mas mesmo assim, não deixo de ficar babado (rsrsrsrsr).
Quem não gosta de carinhos, mais vale deitar-se ao mar...
Um grande beijão para a família, agora ampliada.
Teu primo
Fernando

Anónimo disse...

Wagner Moura (ator brasileiro) disse uma vez: "Acho que quando faço teatro fico mais inteligente e fico melhor ator até para fazer as outras coisas."Tomando por base estas palavras, eu diria que passando a conhecer a história do teatro eu penso que também fico mais inteligente, claro, só acrescento ganhos, mas também fico feliz de poder aplaudir pessoas que possuem a admirável arte de transmitir tão clara o objetivamente estes conhecimentos para nós. Não consegui perder o interessa em acompanhar suas publicações. Bravo! Abraços, Michèle

Anónimo disse...

Nesse espaço, Fernando, você partilha o melhor do teatro e das artes que moram em você. É - como posso dizer - um pedaço da sua alma que nos empresta para aprendermos a apreciar a verdadeira história do teatro de forma simples e competente. Gosto muito de estar aqui. Abraços, Emy.