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sexta-feira, novembro 30, 2007

TUNA REGRESSA AO «BOM» TEATRO




O Grupo de Teatro da


Tuna Musical de Santa Marinha


estreou a peça de Vicente Sanches


A BIRRA DO MORTO

Sinopse (do programa):
Toda a gente embirra ...Até os mortos. A Birra do Morto é uma comédia de Vicente Sanches e tem muito de real. Mostra um pouco da nossa sociedade, com o cinismo de uns, o interesse de outros e a falsidade da maioria. O certo é que mesmo contra a sua vontade, a sua morte era do interesse de todos, incluindo do próprio padre. Qual a maior birra? A do morto que se recusa a ser sepultado, ou a dos outros que querem que ele seja? Não devemos esquecer que o morto além de sofrer de claustrofobia e de ter medo de fantasmas, tem sérias duvidas sobre as causas das posições insólitas em que por vezes os esqueletos são encontrados, se resultam da simples pressão sobre os ossos, exercida pelos gases, ou se eles terão feito tentativas desesperadas para saírem dos caixões. Caríssimos irmãos: e nada mais vos tenho a dizer.


Elenco (por ordem de entrada em cena)

Margarida Mendes — Criada
Filomena Monteiro — Senhora 1
Ercilia Ferreira — Viúva
Júlio Pinto — Médico/1º Sacristão
Elsa Ribeiro — Senhora 2
Amélia Ribeiro — Senhora 3
Lina Pinto — Ti Camela
Marino Fernandes — Morto
Paulo Monteiro — Amigo/1º Soldado
Sérgio Oliveira — Dono da Agência Funerária/2º Soldado
Luís Trigo — Sargento/Sacerdote
José Faria — 2º Sacristão
Encenação: Jaime C. Soares
Contra Regra: José Faria
Ponto: Juliana Cruz
Assistência: Margarida Saraiva e Lisete Pinto
Construção de Cenário: Paulo Ribeiro e Marino Fernandes
Assistência de Luz e Som: Paulo Ribeiro e Bruno Vieira


COMENTÁRIO:


Ao fim de vários anos, a TUNA regressou ao TEATRO pelas mãos de um jovem mas já promissor encenador: Jaime Soares.


Com um elenco diversificado e aglutinando jovens, alguns dos quais da ESAP - Escola Superior Artística do Porto, Jaime Soares soube adequar esta farsa do absurdo às características de um público que tem estado arredado do moderno teatro português, servindo-se com mestria de um elenco que teve de mostrar todas as suas capacidades para erguer bons momentos de espectáculo.


Com limitações próprias de quem ainda não dispõe dos artifícios tecnológicos de que hoje se serve o TEATRO, nem por isso a proposta de Jaime Soares saiu prejudicada. Com efeito, a intensa comicidade da peça ressaltou, desde o primeiro instante, graças ao esforço dos actores e dos técnicos, mas também, é bom sublinhá-lo, graças a uma leitura metódica e justa da encenação.


É ainda de assinalar, além do mérito com que se apresentaram alguns estreantes, o aproveitamento que Jaime Soares fez da peça para lhe conferir uma nota final, «impondo» um baile farsesco em que o público é chamado a participar, assim transformando o que poderia terminar num tom lúgubre (como nas «pompas fúnebres» que há anos nos forneceu a TV), numa alegre paródia à morte, sintonizando o grotesco do «MORTO» (Marino Fernandes) com o clima de alegria e vivacidade que ao longo da peça foi contagiando a plateia que não regateou aplausos aos fautores do espectáculo.


A TUNA está, pois, de parabéns e o espectáculo está aí, vivo e RECOMENDA-SE!




FERNANDO PEIXOTO


PRIMAVERA já era


A TUNA MUSICAL DE SANTA MARINHA


apresenta


PRIMAVERA JÁ ERA


Os mais novos vão apresentar uma noite de teatro... e não só... Este espectáculo infantil está a ser encenado por Jaime Soares, e apesar de não se enquadrar nos 'normais' moldes a que o público da TMSM está habituado, espera-se que tenha também bastante receptividade.
Com este espectáculo será também feita a habitual Festa de Natal.Por isso não se esqueçam, dia 1 de Dezembro, pelas 21h30, no Salão de Festas da TMSM, Primavera já era...!

sábado, novembro 17, 2007

A CIGARRA E A FORMIGA




NORBERTO BARROCA REGRESSA AOS SUCESSOS




O TEP - Teatro Experimental do Porto, estreou quinta-feira, no Auditório Municipal de Gaia, o espectáculo «A cigarra e a Formiga», uma peça inédita de Alexandre O´Neill, com encenação de Norberto Barroca.
Trata-se de uma versão da fábula atribuída ao escritor clássico grego Esopo (séc. VI AC). «A cigarra e a formiga», que Alexandre O´Neill reescreveu, transformando-a no que o TEP descreve como um «espectáculo musical onde a magia da palavra se alia ao canto e ao movimento».
Alexandre O´Neill (1924-1986) entregou pouco tempo antes da sua morte esta peça a Norberto Barroca para que a encenasse, mas, por vários motivos, o encenador só agora teve oportunidade de a levar ao palco, numa encenação concebida tanto para crianças como para adultos.
Esta nova produção do TEP, que tem música original de Paulino Garcia e figurinos de Mário Dias Garcia, tem um elenco formado por José Dias, Mané Carvalho, Patrícia Franco, Santiago Lagoá e Vítor Nunes.
Participam ainda no elenco Ana Anjos, Carolina de Sousa, Diogo Pinho, Eva Ribeiro, Luís Trigo, Rita Burmester e Vânia Mendes, alunos do Curso Superior de Teatro da ESAP - Escola Superior Artística do Porto.
Este espectáculo vai permanecer até 15 de Dezembro no Auditório Municipal de Gaia, com duas representações diárias às segundas, quartas, quintas e sextas-feiras às 10:30 e às 15:00 e uma aos sábados, às 16:00.
O espectáculo, que conta com o patrocínio principal da Câmara Municipal de Gaia e o apoio da empresa municipal Gaianima e da Direcção-Geral das Artes e do Ministério da Cultura, terá preços especiais para as escolas do 1º ciclo do Ensino Básico.
Adaptação de «Diário Digital / Lusa 13-11-2007 15:27:00»

BREVE COMENTÁRIO
O TEP foi bastante feliz com esta montagem do Norberto Barroca. «A Cigarra e a Formiga» é muito mais que um mero espectáculo para crianças. Os adultos vêem-se igualmente empolgados com este espectáculo feito a pensar nos vários níveis etários.
Com um ritmo verdadeiramente vivo, «A Cigarra e a Formiga» surpreende-nos pela vivacidade dos diálogos, mas também pelo nível musical (de Paulino Garcia), pela harmonia das vozes, pelo movimento bem delineado de Ruben Marks, pela simplicidade (bastante funcional) dos cenários de Filipe Rodrigues e pelos figurinos muito bem concebidos por Mário Dias Garcia, onde se destaca um «Grilo» de invulgar elegância.
«A imaginação criativa de Alexandre O'Neill propõe a união da bicharada e a salvação do Homem, contra sua vontade, do DDT e do spray. Assim, Faustosa, megalómana e fantasista, enlaçada por ritmos cadenciados e as Formigas sensatas, conservadoras e defensoras do "trabalho" associam-se; o coro, no seu he-xa-cloro-me-til e no ben-zo-nó-tctt com o sapo fleumático, queixoso do envenenamento provocado pelas magras pernas de mosca que engole, apelam ao bom semso do Homem, contra barbaridades cometidas, lixos tóxicos, hormonas assassinas, dejectos atómicos». (extracto do texto de Laurinda Bom).
Texto bastante actual, «A Cigarra e a Formiga» constitui um espectáculo pedagógico e divertido, que mantém o espectador atento desde o primeiro ao último minuto da representação.
Norberto Barroca e o TEP estão de parabéns, mas não só: também os técnicos e sobretudo o elenco, formado maioritariamente por estudantes de teatro da ESAP que se entregaram com inegável profissionalismo à tarefa de contribuirem para que este espectáculo viesse a ser, de facto, um inolvidável momento de TEATRO PARA TODOS.
Em suma: nesta quase opereta, Norberto Barroca devolve-nos a confiança na sua capacidade imaginativa e criadora. Estamos certo de que este será mais um dos seus grandes sucessos como encenador.
Lá, onde descansa, Alexandre O'Neill não deixará de se sentir orgulhoso com esta homenagem ao seu labor poético e artístico.

FERNANDO PEIXOTO

BRANCA COMO A NEVE


107ª Produção Temporada Artística 20072008 M2
Integrada nas Comemorações dos 500 Anos da Cidade do Funchal

BRANCA COMO A NEVE
Eduardo Luíz e Magda Paixão


Texto e Dramaturgia: Eduardo Luíz e Magda Paixão
Encenação: Eduardo Luíz
Música Original e Direcção Vocal: Fernando Almeida
Figurinos, Adereços e Caracterização: Zé Ferreira
Espaço Cénico: Eduardo Luíz e Cristina Loja

Actores: Ana Graça; António Ferreira; Dina de Vasconcelos; Sónia Carvalho; Magda Paixão; Zé Ferreira;

Letras das Canções: Magda Paixão
Coreografia: Eduardo Luíz e Zé Ferreira
Desenho de Luz: Eduardo Luíz
Direcção de Cena e Operação de Som: Cristina Loja
Operação de Luz: Tef
Montagem de Som: Henrique Vieira
Mestra de Guarda-Roupa: Ilda Gonçalves
Ajudante de Costura: Conceição Franco
Sector para a Infância e Juventude: Magda Paixão e Ana Graça
Manutenção do Espaço: Maria José
Produção Executiva, Frente de Casa e Bilheteira: Patrícia Perneta e Élvio Camacho
Design Gráfico: Dupladp

Sinopse

Um rei, preocupado em coleccionar pássaros, abandona o seu reino nas mãos de uma rainha, sua esposa, má e déspota, preocupada única e exclusivamente com a sua beleza, bem-estar e poder. Ariana, a princesa, branca como a neve, atenta e consciente da tristeza do seu tão amado povo, procura alertar o rei para a situação em que este se encontra. A rainha, sua madrasta, não querendo ser descoberta, tudo faz para calar aquela que é mais bela e pura do que ela.

DURAÇÃO DO ESPECTÁCULO: 60 MINUTOS
CLASSIFICAÇÃO: M2


Texto do Encenador

Os maus só vencem enquanto os bons não crêem.

Olá meninas e meninos! Desta vez, vimos contar-vos uma história branquinha... que escrevi há muitos anos a partir do meu imaginário, construído numa infância que me proporcionou a beleza de ler, criar, imaginar e na prática brincar muito. Nessa altura vivia cheio de sonhos que acalentara desde miúdo e reforçara com o nascimento de um novo tempo. Hoje vivo cheio de sonhos porque me inspiro em vós.
Este texto esteve guardado numa caixa à espera duma oportunidade, um sonho futuro que agora se torna realidade com a preciosa colaboração da Magda Paixão, que assina as letras das canções, dramaturga cujas peças tenho encenado com especial ânimo. Branca Como a Neve teve por base a História da Branca de Neve, compilada no séc. XIX pelos famosos irmãos Grimm, contudo, afasta-se do original, pela atitude rebelde da protagonista.
Vocês não imaginam como se pode tornar divertida uma história, onde os bons vencem os maus… Ariana, a Branca desta história, não se refugia na floresta, antes fica no palácio e tenta reunir os que podem derrubar o poder de Miquelina, a Rainha usurpadora do seu mundo.
É importante que tenhamos forças e coragem para nunca deixar o mal nos enganar e para isso é preciso crer.


Eduardo Luíz

Calendarização

DE 30 DE NOVEMBRO 2007 A 3 DE FEVEREIRO DE 2008 NO CINE-TEATRO SANTO ANTÓNIO
DOMINGOS ÀS: 17H30 (EXCEPTO DIA 2 DE DEZ. 2007)
SEGUNDAS, QUARTAS E SEXTAS ÀS: 9H30 E ÀS 11H15
TERÇAS E QUINTAS ÀS: 9H30 E ÀS 15H30

Bilheteira 2007
ESCOLAS E INSTITUIÇÕES (MEDIANTE MARCAÇÃO PRÉVIA) 2,70 €

- CRIANÇAS ATÉ 12 ANOS (INCLUSIVÉ)
- MAIORES DE 65 ANOS (INCLUSIVÉ)
- ESTUDANTES E PROFESSORES
- GRUPOS SUPERIORES A 10 PESSOAS 3,50 €

PÚBLICO EM GERAL
7,50 €

http://www.tef.pt/

sexta-feira, novembro 16, 2007

HOMENAGEM AO ACTOR ANTÓNIO REIS


MIT Valongo abre com homenagem a António Reis.


O ENTREtanto MIT Valongo – Mostra Internacional de Teatro conta com a participação de projectos de Espanha, França, Brasil e ainda com representações nacionais. A homenagem ao actor António Reis abriu em 16 de Novembro, a 10ª edição do festival, no Fórum Cultural de Ermesinde.

O Fórum Cultural de Ermesinde, acolheu a homenagem ao actor António Reis, com a peça «YEPETO- A Dor de Uma Paixão», o vídeo-documentário «António Reis, o Actor», que incluiu testemunhos e dedicatórias, e a inauguração da exposição «António Reis: Uma vida no teatro», que estará patente ao público até 24 de Novembro, com fotografias sobre a sua vida e carreira. A homenagem marca toda a Mostra, ambicionando contribuir para a aproximação das várias faixas etárias e segmentos de público ao projecto de vida no palco, à entrega, tantas vezes difícil, do profissional do Teatro.

Anualmente, o MIT presta homenagem a uma personalidade da área, cuja carreira espelha a sua entrega e dedicação ao Teatro.

António Manuel Lopes da Silva Reis nasceu a 20 de Janeiro de 1945, no Porto, na freguesia de Massarelos. Na Ordem da Lapa, aprendeu as primeiras letras e, ainda a brincar, foi participando nas récitas teatrais da escola. Em 1964, com o nome artístico António Reis, inicia a sua actividade no Grupo dos Modestos. Em 1970 ingressa no Teatro Experimental do Porto e, três anos mais tarde, torna-se fundador e director da Seiva Trupe – Teatro Vivo. Entre os encenadores com que trabalhou destacam-se Júlio Cardoso, Carlos Avilez, Carlos Cabral, Norberto Barroca, Correia Alves, Joaquim Benite, Fernando Heitor, os brasileiros Ulysses Cruz, Roberto Lage e Gabriel Villela, os espanhóis Angel Facio e Pere Planella e o argentino Júlio Castronuovo.

Para além do palco, António Reis marcou também presença na televisão com 36 participações em séries, telenovelas, espectáculos e programas. A sétima arte também conta com o seu trabalho, nomeadamente nos cinco filmes de Manuel de Oliveira em que participou, «Vale Abraão», «Inquietudes», «Palavra e Utopia», «Quinto Império» e «Cristóvão Colombo – O Enigma».

Dois terços da vida de António Reis foram passados no palco com 73 peças representadas – 47 das quais como actor principal –, sempre assinadas por autores de renome como Jorge de Sena, Camilo Castelo Branco, Bernardo Santareno, Dias Gomes, Gil Vicente, Júlio Dinis, Almeida Garrett, Romeu Correia, Moliére, Samuel Beckett, Federico Garcia Lorca, Mrozek, Bertolt Brecth, Plínio Marcos, Nelson Rodrigues, Sofocles, Luigi Pirandello, Chico Buarque de Hollanda, Leon Tolstoi, William Shakespeare, Eugéne Labiche, Copi, Peter Schaffer e Heiner Müller.

(Extractos da notícia publicada em O PRIMEIRO DE JANEIRO de 16 de Novembro de 2007).


BREVE COMENTÁRIO


O António Reis é já hoje uma figura de referência do melhor teatro que se tem feito em Portugal. Habituados como estamos a valorizar tudo quanto é estrangeiro, ou do Sul de Portugal, era já mais que tempo para reconhecermos este valor incontornável do teatro nacional nascido na Lapa, em pleno coração da cidade do Porto.

Homem de amizades solidárias e de convicções, António Reis tem sabido , ao longo da sua vida, conciliar TEATRO com COERÊNCIA, CULTURA com SOLIDARIEDADE, AMIZADE com HUMANISMO.

Foi com prazer imenso que nos integramos numa plateia repleta de admiradores do Homem, do Actor, do Companheiro a quem todos nós ficamos devedores pelo muito que nos tem dado.

O TEATRO, contigo, António Reis, torna-se mais digno e solidário, Mas, aqueles que têm o privilégio de te conhecerem, sabem que usufruem de um handicap invejável: estão mais perto dos valores que tornam o HOMEM no verdadeiro CRIADOR da Arte e do Humanismo.

Só espero, ansioso, que homens como tu e o Júlio Cardoso vejam, em breve, o Grande Porto reconhecer com a dignidade que merecem, o inquestionável contributo que ambos têm dado à cultura e ao TEATRO!


FERNANDO PEIXOTO

O CARTEIRO DE PABLO NERUDA



O Carteiro de Pablo Neruda de Antonio Skármeta
com António Reis, Miguel Rosas, Sandra Ribeiro e Sara Barbosa

sinopse: Mário Jiménez vive com o pai na Ilha Negra, onde o principal ofício é a pesca, mas Mário não quer ser pescador e aos 17 anos arranja trabalho como carteiro.Naquele lugar, não se lê nem se escreve e Mário tem um único cliente, Pablo Neruda. A amizade de Don Pablo e a sua poesia transformam a vida de Mário. Este jovem carteiro descobre o poder da metáfora e da poesia através do contacto e da amizade com o poeta.


FICHA TÉCNICA
Encenação: Júlio Cardoso
Elenco: António Reis, Miguel Rosas, Sandra Ribeiro e Sara Barbosa
Companhia Seiva Trupe


BREVE COMENTÁRIO:

Para quem leu a obra de Skármeta (e muito mais para quem viu o filme), era imensa a expectativa. Como o era, também, ver como a interpretação de António Reis se adaptaria à personagem que, à partida, parecia estar talhada para aquele que, afinal, veio a ser o encenador: Júlio Cardoso.

Realmente, não poderemos aquilatar da forma como Júlio Cardoso defenderia a personagem de Pablo Neruda, mas podemos asseverar que António Reis ultrapassou largamente a nossa expectativa. Sobretudo depois de termos visto YEPETO, onde nos aparece uma encenação muito bem conseguida (também de Júlio Cardoso) e uma interpretação soberba do António Reis, vê-lo agora encarnando a figura do grande poeta chileno parecia-nos uma aposta difícil de ser ganha. Mas foi.

António Reis mostrou-nos, mais uma vez, a sua imensa capacidade de desdobrar-se em múltiplas e díspares personagens, revelando-nos um actor de posse de todas as faculdades do comediante que sabe utilizar todos os recursos recolhidos numa intensa e multifacetada carreira, e soube trazer ao palco do Campo Alegre um poeta que aliava o génio ao humanismo intenso que o caracterizou. O poeta alegre e carinhoso, mas também o homem de ideais que lutou sem quebras de coerência nem de ânimo, está ali, presente em corpo inteiro, no corpo dawquele que é hoje, um dos maiores actores do teatro português: o tripeiríssimo António Reis.

Há que realçar, ainda, a encenação despojada de artifícios, mas rigorosa, de Júlio Cardoso (excepção para o lago frontal, cujo interesse nos pareceu algo despiciendo) e, sobretudo, a sua mão de mestre na direcção de actores.

A música, bem escolhida a partir do folclore chileno, foi utilizada como complemento do texto, sublinhando ainda a magnífica interpretação de Miguel Rosas, Sandra Ribeiro (recém chegada ao teatro profissional mas demonstrando já uma segurança invejável) e de Sara Barbosa.

Um espectáculo, de facto, a não perder, para quem admira Pablo Neruda, mas também para quem gosta do (verdadeiro) TEATRO.


FERNANDO PEIXOTO



terça-feira, novembro 06, 2007

O CARNAVAL TEM UM REI

NOTA - Vale a pena ler este texto do brasileiro Augusto Boal, dramaturgo e grande encenador e teórico do teatro

Por Augusto Boal
Texto publicado na Revista Teatro/CELCIT. Nº 32

O Carnaval tem um Rei: o Rei Momo. A obesidade é uma doença, mas muitos gordos sonham em ser o Rei dos Doentes.
Francisco Alves foi o Rei da Voz, o futebol tem rei e, na Itália, até imperador, porque Adriano era o nome de um tirano que virou centro-avante. Existem Reis das Quadras, Rei do Rinque, Rei das Pistas.
Rei por toda parte: no Rio, um restaurante se chama Rei do Bacalhau; outro, O Bacalhau do Rei. Na Noruega, um dia jantei em um restaurante que se chamava Rei do Bacalhau em Soda Cáustica, que é uma forma local de se preparar esse peixe, enterrado uma semana em soda cáustica antes da frigideira – e depois de bem lavado, é claro. Delicioso.
No campo, o Rei da Soja; na cidade, o Rei na Noite.
Só fica faltando o Rei da Morte, mas em Porto Rico eu vi um anúncio na beira da estrada que jurava: “Para o seu defunto bem amado, melhor que o nosso cemitério, só mesmo um lugar no Paraíso, ao lado do Cristo Rei”.
Rainhas também proliferam: Rainha dos Baixinhos, Rainha da Uva, Rainhas de Beleza. Sem esquecer que a minha mãe era a Rainha do Lar.
Por que essa obsessão pelos títulos de nobreza? Em parte, ela reflete o desejo de sermos excelentes, superar barreiras, mostrar que somos capazes de muito mais: somos reis.
Quase sempre, porém, essa é uma forma agressiva de menosprezar os plebeus como nós, turba ignara, que só servimos para vassalos e para a produção de aplausos... ou para o lixo.
A Monarquia necessita de insígnias: a Coroa, além de mostrar que o rei é Rei, mostra que nós somos cabeças descoroadas. Coroar um rei significa roubar a coroa da nossa cabeça nua.
As Monarquias, por assim dizer, laicas, também existem no seio da República: na moda, no esporte, na economia e, sobretudo, nas Artes.
As Monarquias econômicas se sustentam no poder do dinheiro, e suas insígnias são os automóveis luxuosos, mansões com muros eletrificados, seguranças armados.
A Monarquia Artística se sustenta na Mídia que determina quem é Artista e quem não: só é Artista quem aparece na televisão e nas colunas sociais, que são as suas insígnias.
A Mídia faz supor que ser Artista é dom divino, coisa de elite, que só a própria Mídia tem a faculdade de descobrir e... vender. A Monarquia Artística faz parte da Economia do Mercado.
Arte, no entanto, é a própria condição humana — ser artista é ser humano. É a forma pela qual as crianças aprendem a viver em sociedade. Fazendo Arte: teatro, música, dança, pintura...
Fazendo teatro, as crianças compreendem as relações sociais entre pai e mãe, médico e doente, primo e irmão, polícia e ladrão... Improvisam cenas dentro do mais puro estilo de Stanislawky, cheias de emoção e memórias emotivas.
Não só teatro: toda criança é arquiteta e brinca na areia, construindo casas. Toda criança é artista plástica e, se lhe dão lápis de cor e papel, pinta. Se lhe dão massa 37
de modelagem, esculpe. Quando ouve música, até o bebê baila e ri feliz. É assim que se aprende a viver, bailando, porque somos todos bailarinos, artistas plásticos, cantores e atores, desde criancinhas.
Aprende-se a sorrir pela Arte: quando acerta, a criança ri o riso de felicidade; quando erra, o riso de quem descobre o erro. A criança que não ri até os três anos de idade, jamais conhecerá os prazeres da alegria, e viverá para sempre em preto e branco, sem as cores da felicidade.
O ser humano, porém, como qualquer animal, necessita de território para viver, mover-se, reproduzir-se. Poucos, porém, aprendem Solidariedade, a mais fácil das disciplinas.
Os predadores avassalam suas vítimas. A cada momento, inventam novo nome para designar a mesma predação: colonialismo, imperialismo e, agora, globalização. O Mercado, que é sujeito e mentor da globalização, invade a intimidade de nossas casas, na TV e nos jornais, na Internet e no telefone, para nos obrigar a comprar e recomprar os seus produtos.
O Mercado cria a moda e os padrões de Arte. Nega a verdadeira Arte, pois que Arte é a diversidade e não a reprodução ad infinitum da mesma idéia ou coisa.
O Mercado quer que compremos a mesma marca de tênis e o mesmo rosto de ator, a mesma lavadora de roupa usada pela atriz da telenovela, ou pela sua criada negra.
A globalização não quer globalizar a fraternidade, a medicina preventiva, a luta contra a fome. Quer criar Mercado e, por isso e para isso, não cria a mercadoria que vai satisfazer as necessidades do consumidor: cria os consumidores que vão satisfazer as necessidades do Mercado.
O Mercado quer destruir a Arte que nasce no coração de cada um de nós, e substituí-la pelo simulacro de arte exposto e proposto pela mídia, onde o nosso lugar é no auditório que aplaude sob comando, e ri quando mandado.
Para lutarmos contra a globalização temos que desenvolver, em cada um de nós, o artista que vive dentro de nós, e que foi amordaçado quando nos obrigaram à condição de apenas espectadores.
Para isso, os Pontos de Cultura1 são essenciais ao Brasil que se transforma — hoje, mais do que nunca —, porque eles permitem e estimulam o desenvolvimento artístico e intelectual de todos, e não apenas de alguns eleitos.
Os Pontos de Cultura são o exemplo máximo de Democracia, pois apóiam os núcleos que já existiam com seus próprios seus projetos, sem impor censuras ou limites.
Nos Pontos de Cultura, a Arte é essencial, até mesmo por uma razão científica, neurológica: porque existem Linguagens Informativas e Linguagens Cognitivas. Para a mais completa compreensão do mundo, temos que nos valer de todas.
Quero que fique claro: qualquer linguagem tem, como função essencial, transportar informações — fatos, idéias, emoções, sons, cores e formas. Toda linguagem é, portanto, Informativa. Outras, além das Informações e Conhecimentos que transportam, são, em si mesmas, Conhecimento.
Nas Linguagens Cognitivas, o Conhecimento é a própria Linguagem. A música, a fotografia, a dança, a escultura, a pintura, todas as Artes são Linguagens Cognitivas — pois Conhecimento não se reduz apenas àquele que pode ser verbalizado com palavras, mas inclui aqueles que são compreendidos pelas sensações e emoções.

Dou um exemplo: a partitura de uma canção está escrita em uma Linguagem Informativa que pode ser lida por todos que a conhecem; ela transporta informações sobre sons, tempos e claves. Ao executar essa partitura, ao realizar essas claves, tempos e sons, o pianista os traduz pela sua sensibilidade de artista e cria a canção que ouvimos e ressoa — esta é Linguagem Cognitiva. Na partitura, a canção é apenas informação; executada, sonora, é Conhecimento. Os significantes da partitura se traduzem nos significados da Arte do pianista.
Um quadro é Conhecimento, mesmo que nada se explique a seu respeito — basta que o espectador o sinta, perceba e frua. O histórico do quadro pode nos trazer Conhecimentos adicionais, modificando a percepção que dele fazemos. Ele, em si, no entanto, já era Conhecimento.
Se nos dizem que a modelo da Mona Lisa era uma distante e bela dama, ou frágil rapazinho enamorado do pintor, isto pode nos oferecer novos ângulos de observação e fruição desse quadro, provocando, em nós, novas reações e sentimentos. O quadro, porém, já nos havia proporcionado Conhecimento, isto é, já se havia integrado dentro de uma estrutura ampla de valores, idéias, emoções e razões que já possuíamos anteriormente em nossa memória ativa, consciente ou não.
A Informação, para se transformar em Conhecimento, deve ser associada a outras informações e valores que já possuímos e que lhe darão sentido e valor em um quadro moral e ético.
Conhecimento é a Informação estruturada que permite a tomada de decisões éticas, pois a ética é uma invenção humana que nos afasta dos instintos animais.
As informações do mundo exterior nos chegam pelos sentidos através do córtex cerebral, mas o que temos guardado no subsolo do nosso cérebro (paleomamífero), fruto de anteriores informações recebidas, vai influenciar nossas novas percepções, ao recebê-las. Se o nosso cérebro está inundado pelo lixo informativo, distorções e falsidades que nos jogam em cima os meios de comunicação e a publicidade, estas irão deformar o nosso precário entendimento.
Os Pontos de Cultura não se devem limitar a produzir a arte pela arte, mas devem situá-la dentro do nosso contexto histórico — os Pontos de Cultura são brasileiros e não correias de transmissão de ritmos, formas e idéias importadas, sem reflexão. Criemos a nossa arte, seja qual for, mas nossa!
Claro que podemos — e devemos! —, dialogar com outras formas culturais e com as artes estrangeiras. Diálogo e não imitação: isso deve ser feito antropofagicamente, como diria Oswald de Andrade. Devemos ser eruditos, pois erudição é o conhecimento das culturas alheias, mas, sobretudo, devemos ser cultos, criando a nossa!
A minha grande admiração pelo Projeto dos Pontos de Cultura vem do fato de que não nos obriga a nada, mas nos permite tudo: nesta confrontação de idéias, neste cotejo de tendências — que é o contrário da globalização! — eu tenho plena confiança na inteligência humana: creio em nós.
Nós aprenderemos a ser nós mesmos, e não aquilo que nos ordena a Mídia.
Seremos livres para criar: seremos artistas!


1 El gobierno de Lula, mediante el programa Cultura Viva, implementó el proyecto Pontos de Cultura (puentes de cultura): subvenciones a comunidades humildes otorgadas por concurso a los me­jores proyectos educativos comunitarios. En 2005 varios cientos de estos “puentes” funcionaban en la ciudad de Sao Paolo. (Nota de la Ed.)