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quinta-feira, outubro 11, 2007

DORIS LESSING - NOBEL DA LITERATURA 2007


Doris Lessing durante a apresentação do seu livro The Cleft, no Teatro de Thalia, em Hamburgo


Nobel de Literatura Doris Lessing vence contra as previsões


Escritora inglesa de 87 anos ultrapassou nomes como DeLillo, Roth e Magris
Luciana Leiderfarb
17:00 Quinta-feira, 11 de Out de 2007

Como todos os anos, o Nobel da Literatura prestou-se a inúmeras especulações. Mas poucas, curiosamente, apontavam Doris Lessing como vencedora. Hoje, soube-se que nem sempre as intenções do Comité Nobel são previsíveis: é ela quem receberá das suas mãos o prestigiado galardão, na cerimónia que decorrerá em Estocolmo a 10 de Dezembro. O mesmo Comité justifica a sua escolha - que passou à frente de nomes favoritos, como os norte-americanos Don DeLillo, Philip Roth ou o italiano Claudio Magris - qualificando a escritora como "contadora épica da experiência feminina, que com cepticismo, ardor e uma força visionária perscruta uma civilização dividida." Trata-se da 11ª mulher a conquistar o prémio em toda a sua história, que remonta a 1901, quando foi outorgado ao poeta francês Sully Prudhomme.
Em Portugal, as opiniões continuaram divididas mesmo após ser conhecida a decisão. Maria Alzira Seixo, catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, disse à Lusa que considera Lessing "uma escritora de segunda ordem". Sendo "interessante do ponto de vista da escrita intimista e psicológica na esteira da Virginia Wolf, não está entre os melhores escritores que poderiam merecer esta distinção", argumentou, acrescentando que Philip Roth e António Lobo Antunes "podiam ter sido os distinguidos deste ano". Já Maria Teresa Horta congratulou-se com a escolha. Além de Doris Lessing apresentar "uma escrita muito equilibrada mas procurando sempre novas maneiras de escrever", ela "dá uma grande atenção nos seus livros aos discriminados, aos desprotegidos". "Temia que se cumprisse o destino de outras notáveis mulheres como Virginia Wolf e Marguerite Yourcenar que morreram sem receber o Nobel, mas felizmente assim não acontece e foi uma excelente escolha da Academia", salientou. Entre as mulheres que mais recentemente venceram o Nobel encontram-se a austríaca Elfriede Jelinek e a polaca Wislawa Szymborska.
A escolha de Lessing é igualmente polémica fora de Portugal. O crítico e escritor Harold Bloom afirmou à Associated Press que a decisão corresponde a "pura correcção política" . "Acho a sua obra dos últimos 15 anos ilegível", comentou, qualificando-a de "ficção científica de 4ª ordem".
Muitos dos livros de Doris Lessing abordam temas controversos como a divisão entre negros e brancos, o colonialismo, o racismo, as questões feministas e a violência contra crianças. O continente africano assume uma posição de destaque nos cenários das suas obras, o que tem uma razão de ser: a escritora passou uma grande parte da sua infância da Rodésia do Sul, hoje Zimbabué. Lessing nasceu na Pérsia, actual Irão, em 1919, com o nome Doris May Tayler, no seio de uma família inglesa em que o pai era um funcionário do Banco Imperial da Pérsia e a mãe uma enfermeira. Em 1925, mudaram-se para a Rodésia do Sul. Doris Lessing viria a descrever a sua infância como um misto de "algum prazer e muita dor". Autodidacta (só tardiamente estudou num liceu feminino, que abandonou aos 13 anos), foi por esforço próprio que se tornou numa intelectual e, mais tarde, numa escritora. Não há muito tempo que Lessing declarou que as infâncias infelizes tendem a produzir escritores de ficção. "Mas eu, na altura, não pensava nisso. Pensava apenas em fugir, o tempo todo", lembrou. Tinha 15 anos quando de facto saiu de casa para aceitar um emprego como enfermeira, onde o patrão lhe dava livros de política e sociologia para ler. Começou a escrever histórias e rapidamente vendeu duas para revistas da África do Sul. Mais tarde foi também telefonista e estenógrafa.
Depois do seu primeiro livro, "A Erva Canta", de 1950, ela só alcançaria o reconhecimento mundial em 1962, com a publicação do clássico feminista "O Caderno Dourado". A escrita de Lessing teve várias "fases", a primeira comunista, a segunda psicológica e a terceira "sufista", onde a escritora explora as temáticas do sufismo utilizando a ficção científica. Ao todo, Lessing (que completa 88 anos a 22 de Outubro) é autora de mais de cinco dezenas de livros, cerca de 20 editados em Portugal. A notícia do Nobel apanhou-a de surpresa, enquanto fazia compras em Londres, cidade em cuja periferia reside. Ficou a saber que receberá 10 milhões de coroas suecas (1,1 milhões de euros) pela comunicação social.
DORIS LESSING é autora de peças como SWEENEY TODD e O TERRÍVEL BARBEIRO DE FLEET STREET


Doris May Taylor Lessing(1919)

Escritora inglesa, nasceu na Pérsia (hoje Irão). Os pais eram ingleses. A família foi viver para o Zimbabwe, em 1925. Estudou na Rodésia e viveu na África do Sul, onde interiorizou a preocupação pela falta de liberdade de alguns. Doris e o irmão eram dominados pela mãe que a mandou para um colégio de freiras de onde Doris fugiu, por a atemorizarem com demónios. Tinha treze anos. Passou a estudar sozinha e a ler Dickens, W. Scott, Stevenson, Kipling, Dostoievsky e D.H. Lawrence, que lhe povoaram a imaginação. Sempre com um mau relacionamento com a mãe sai de casa aos quinze anos indo trabalhar como ama seca. Começou a escrever pequenas histórias que vendeu a revistas da África do Sul. Em 1937 mudou-se para Salisburia como operadora de telefones. Aos dezanove anos casou. Teve dois filhos. Criticou a vida tradicional britânica confrontada com a realidade de África. Tem obras de ficção como Contos Africanos, mas escreveu também com preocupações sociais. Esteve no Paquistão e escreveu sobre os campos de refugiados afegãos. Radicou-se em Londres em 1954. É uma das escritoras vivas que melhor conhece a realidade africana, embora seja algo controversa. Escreveu até hoje mais de cinquenta títulos e dois livros autobiográficos, um deles com o título "Under My Skin: volume One of My Autobiography, to 1949...." Escreveu sobre a sua infância. Em 1995 recebeu o James Tait Black Prize para melhor biografia. É regularmente nomeada para o Nobel da Literatura. Continua activa. Em 1999 foi-lhe concedido o título de Dame do Império Britânico.

2 comentários:

Anónimo disse...

Belíssimo trabalho, atingindo em seu escopo, o leque abrangente de um perfil muito bem delineado.
Foi um prazer lê-lo. Meu abraço.
Sylvia Cohin

Anónimo disse...

Com um poder de sintese impressionante, nos foi apresentado neste Blog o perfil real de Doris Lessing, contemplada com o Nobel de Literatura contra as previsões oposicionistas. Um valorosa trabalho!