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quinta-feira, novembro 27, 2008

FESTIVAL AMASPORTO INICIA A 29 DE NOVEMBRO

O festival Amasporto arranca este fim de semana com o espectáculo "Bar dos Lilazes", textos de Bernardo Santareno e encenado por Alfredo Correia ACGITAR-Jovim/Gondomar, com 2 prólogos , um excerto de uma peça de Jacinto Lucas Pires e o outro prólogo, o Poema "Loucura de um Poeta" de Fernando Peixoto.

Ás 21.45h na sala da Companhia Teatral de Ramalde da Associação 26 de Janeiro

NÃO PERCAM!!!

terça-feira, novembro 04, 2008

Crítica por Pretérita Pessoa

“Os Estados Eróticos Imediatos de Sören Kierkgaard”

de Agustina Bessa Luís

pelo Seiva Trupe

Direcção de Roberto Merino

Desta peça, Carlos Porto (1930-2008) crítico teatral especialmente ligado ao Porto e aos grupos mais antigos da cidade, nos quais o Seiva Trupe honrosamente se inscreve, provavelmente acentuaria – como em muita da sua produção crítica, sendo um exemplo a generosa menção a Cenas da Vida do Príncipe Hamlet, encenação de Roberto Merino com alunos da ESAP no FITEI 2004 – as qualidades e o trabalho específico de cada um, sejam pessoas ou elementos que constituem a peça.

Provavelmente Carlos Porto falaria de Paulo Calatré, e de como este tão claramente somatiza o tormento de Kierkegaard na sua caracterização do filósofo, fazendo um homem que carrega uma corcunda como, simbolicamente, um peso; e falaria também da presença ágil e voz desenvolta de Jorge Loureiro, num D. João vexado e apoquentado; e mencionaria também a impressionante segurança da Tia, de Clara Nogueira, com a força necessária para dar luta ao protagonista, sedutor que se descobre.

Também o crítico não descuraria falar da ingenuidade patética, em especial na face e voz, da personagem de Miguel Rosas, esse Frederick, para sempre putativo noivo da Regina Olsen de Isabel Nunes, vibrante na sua primeira aparição, ao piano, num silêncio incomportável perante Kierkegaard, com o corpo e os olhos em tensão como que numa espera inquieta de poder falar.

De certeza que Carlos Porto também referiria Hugo Sousa, companheiro do filósofo, libertino mais libertino que Kierkegarard, sem os remorsos e com o orgulho que tão bem demonstrou no modo desabrido com que falava da sua relação com a actriz representada por Anabela Nóbrega, uma Julieta de quarenta anos; a voz de Anabela Nóbrega não deixaria por certo de merecer que se lhe sublinhasse a beleza do timbre.

Parece-nos também evidente que o decano dos críticos não deixaria por dizer que as Criadas Carolina Sousa, Juliana Rodrigues, Lizete Pinto, Vânia Mendes e Vera Pitrez representaram na perfeição – em uma espécie de coro – a seduzida sedutora, cada uma com um tom diferente como as diferentes situações onde cada qual languidamente enunciou ser abordada pelo filósofo. O mesmo Kierkegaard que nesta peça gostava da companhia das criadas e era inseparável do seu guarda-chuva - esse pretexto tão bom como outro qualquer para enredar uma criada que poderia não ter noivo ou namorado e se encontrasse a passear o cãozinho dos senhores.

Carlos Porto haveria também de falar do acerto dos figurinos de Manuela Bronze, na sua sugestão de toda uma época sobretudo pelas cartolas dos homens assim como pelas toucas das criadas, elemento este tão citado de atracção e maldição; e da cenografia de Acácio de Carvalho também falaria, dizendo por certo da sua versatilidade – por um lado – dos módulos metálicos, como da opulência visual dos panos vermelhos em fundo, que, como teatrais cortinas de uma teatral invocação de máscaras e mitos, estão presentes sempre para só se fecharem em conclusão.

A luz de Roberto Merino e Davide da Costa levaria, decerto, a falar da penumbra final que o é também na vida da personagem central, em jogo com a luz da chama no livro que arde no fim; o desenho de som de José Prata e Daniel Santos que tão bem pontua passagens e memórias (como o caso do D. Juan de Mozart ouvindo-se em fundo, na mais plena assunção do carácter sedutor de Kierkegarard) ou presságios (no esvoaçar da ave, quase um arranhar) também seria mencionado.

E a direcção de Roberto Merino seria com certeza relevada nas palavras de Carlos Porto por concentrar em pouco espaço e pouco tempo (menos de hora e meia) várias vidas e uma em particular, a do protagonista, que vai do orgulho à queda: em dinâmicas movimentações de cena e de objectos cenográficos, criando vários cenários que multiplicam a sala, e lhe dão - como em especial com o uso da porta que o era para a rua, o jardim ou, simbolicamente, para uma saída a que Kierkegaard se furtava – dão o paralelo justo às tensões que intensas sucederam às não menos intensas seduções entre as personagens.

Talvez o dissesse Carlos Porto, crítico nobre e generoso na sua atenção. Talvez muito provavelmente o fizesse. E nós assinaríamos por baixo.

Nuno Meireles

Festival Amasporto

Todos os anos, como já é tradição, publicamos aqui o programa do Amasporto. Este ano fazemo-lo de forma ainda mais especial. A edição deste ano do Amasporto é um tributo a Fernando Peixoto (anteriormente laureado com o Prémio Talma). Todos os anos o seu fundador, Alfredo Correia, deixa uma mensagem aos participantes. Abaixo poderemos ler a mesma e o programa completo do festival.


Companheiros,
Ainda está muito fresca a memória que temos de Fernando Peixoto, e estou certo, que se vai manter para todo o sempre.
Fernando Peixoto, para além de ser um companheiro solidário e um Amante apaixonado pelas coisas, e causas, dos Amadores de Teatro, deixou-nos imensos registos de saberes e conhecimentos, com os quais, podemos aprender a estar com a vida do Teatro.
Companheiro e Amigo Fernando Peixoto
Quero dizer-te, que és um Lobo do Mar, deste imenso oceano, chamado Teatro, e que ,muito fizeste para que os Amadores possam manejar melhor os remos da sua embarcação.
Quero dizer-te, que no barco do Amasporto, está um leme com o teu nome gravado, e de que tanto se orgulha o Talma.
Quero dizer-te, que o teu nome tenho-o escrito numa pedra, que guardo bem no fundo das águas do meu peito.

Aceita um abraço fraterno e solidário, com respeito e admiração.
Aos Companheiros deste Amasporto e a todos os 1995 participantes que por aqui passaram, permitam-me incluir, os vossos votos de pesar nesta lembrança singela, a um dos mais ilustres membros da nossa Família Teatral Associativa.
Paz à tua alma e aceita o nosso aplauso

Sempre
Alfredo Correia





PROGRAMA AMASPORTO


1º) - 29 de Novembro
“BAR DOS LILAZES”, textos de B.Santareno- Enc.Alfredo Correia
ACGITAR-Jovim/Gondomar

2º) - 13 de Dezembro
“CAFÉ VALENTIM” ,textos de Karl Valentim - Enc.Victor Valente
COMPANHIA DO JOGO -Albergaria-A-Velha

3º) - 20 de Dezembro
“EM CASA DO MESTRE PATHELIN” - (sec.XV) - Enc.Dantas Lima
ASSOCIAÇÃO CULTURAL DE CHAFÉ - Viana do Castelo

4º) - 10 de Janeiro
“7 MULHERES e 3 PELES”,textos: Shakespeare, Gil Vicente e Lorca - Enc.Victor Valente
Grupo de Teatro ILUSÕES & LIMITADAS - Aradas/ Aveiro

5º) - 17 de Janeiro
“AQUI HÁ FANTASMAS”, de Henrique Santana – Enc. Luís Couto
TEATRO EXPERIMENTAL MAGNETENSE-Lousada

6º) - 24 de Janeiro
“O TRIUNFO DAS PERSONAGENS”,de Casimiro D.Simões;
“O CONSULTÓRIO” e “O POÇO”, de A.M. Pires Cabral
GRUPO PAROQUIAL DE TEATRO DE LEÇA-Leça da Palmeira/Matosinhos

7º) - 07 de Fevereiro
“AGAYOLA” , de Alfredo Correia
COMPANHIA TEATRAL DE RAMALDE- Porto

LOCAIS A INDICAR –ESPECTÁCULOS AOS SÁBADOS PELAS 21,45 HORAS

Dia 08 de Fevereiro – 16 horas
CERIMÓNIA DE ENCERRAMENTO-Auditório Paroquial da Igreja de Ramalde
Entrega das Placas Associativas aos Grupos Participantes
Atribuição dos “PRÉMIO TALMA”

TRIBUTO A FERNANDO PEIXOTO

Actor,Encenador,Historiador,Teatrólogo,Escritor, Dramaturgo,Professor e Poeta
-Prémio Talma 2000-
(N.25 Julho 1947 –F.03 OUT.2008)

Colaboração de Helena Peixoto (filha), Manuel Ângelo, Roberto Merino,Sérgio Marques,Francisco Santos
e do músico/actor, da C.T.Ramalde – David Ferreira

Encenação do Poema “A LOUCURA DO POETA” – excerto de uma cena,
da peça “BAR DOS LILAZES” (2008, enc. Alfredo Correia),
pelo Grupo de Teatro ACGITAR-Jovim/Gondomar