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segunda-feira, junho 09, 2008

NOTÍCIAS-JUNHO 2008



PUNHAL NA CARNE
de Júnior Sampaio
no Teatro do Campo Alegre
10-06-2008 a 29-06-2008


Co-produção do Seiva Trupe e ENTREtanto Teatro, a partir de "Como Um Punhal nas Carnes", de Maurício Kartun, com tradução de António Rebordão Navarro, adaptação, dramaturgia e encenação de Júnior Sampaio, interpretação de Clara Nogueira e José Fragoso, cenografia de Júnior Sampaio e Vítor Sotto-Mayor, desenho de luz de Wilma Moutinho e figurinos de Júlio Waterland.
Um texto, inédito em Portugal, que confronta a força e fraqueza da paixão arrebatadora. Um casal: as suas paixões extraconjugais. Delírios, desejos, esperanças, fantasias, sonhos, sofrimentos, feridas, angústias, desamparos, ressentimentos, desesperos, penúrias e enganos de que quem ama é vítima. A paisagem destruída de um casal depois da fúria devastadora da paixão (catástrofe natural que aflora a pele, inunda o corpo e reconstrói a alma).


O HOMEM SEM CARA
Teatro Art'Imagem
O Teatro Art’ Imagem irá apresentar “O homem sem cara” no auditório da Quinta da Caverneira, Águas Santas, Maia.
Este espectáculo estará em cena em Junho nos dias 12, 13 e 14 às 22h00 e no dia 15 às 16h00.
Destina-se a maiores de 12 anos e o preço do bilhete é de € 3,00 (preço único).

Inf e reservas pelo tlf 96 020 88 19
Esta peça (num texto original da nova dramaturgia portuguesa e estreada em Novembro 2006), foi inspirada na história verídica de um homem que sofre um grave acidente onde perde parte do rosto. Depois de várias operações aceita fazer um transplante. É este o drama em que vive.
Spinoza levantou a questão de saber se um homem muito mutilado ainda podia considerar-se um homem
ficha artística:
texto e encenação de Fernando Moreira * figurinos de Marita Setas Ferro * cenografia de Ricardo Preto * música de Carlos Adolfo * interpretação de Ângela B. Marques, Pedro Carvalho e Valdemar Santos.
sobre a peça (texto do encenador):
Quando vi na televisão uma reportagem sobre um homem que perdeu parte da cara e ao mesmo tempo li as notícias sobre o primeiro transplante mundial de rosto senti que havia matéria suficiente para escrever uma peça de teatro.
Encontrei ainda informações bizarras quanto ao chamado progresso da ciência, isto é, o homem a quem fora feito o primeiro transplante de
mão pediu aos médicos para a removerem (porque a achava feia e grande demais);
o homem chinês a quem foi transplantado o pénis pediu para o retirarem (a mulher não aceitou o novo orgão).
Compreendi que havia algo de lírico e trágico no meio disto tudo. Afinal, quem sofre mais: o acidentado ou as pessoas que lhe são próximas? Quem é, e quem foi a pessoa que doa o rosto? Como se aguenta psicologicamente o transplante?
Chegámos às profundezas do ser e como sabemos que arte é reflexão e inquietação avançámos, sem medo, para este desvelar da alma.


DUELO
de Bernardo Santareno
O Grupo Cénico da Música Nova, dirigido por Vicente Batalha, apresenta, no seu Teatrinho de Bolso, em Pernes, Santarém, "O Duelo", de Bernardo Santareno, em ante-estreia, no dia 24 de Maio, às 21h30, e, em estreia, no dia 25 de Maio, à mesma hora. Os espectáculos seguintes terão lugar, a 31 de Maio, 1, 21, 22 de Junho, sempre às 21h30. O Grupo conta com apoios da Câmara Municipal de Santarém, da Junta de Freguesia de Pernes e da Rádio Pernes. A peça "O Duelo", de Bernardo Santareno, foi publicada em 1961, e só subiu à cena dez anos depois (1971), pela Companhia do Teatro Nacional/Amélia Rey Colaço-Robles Monteiro, com Eunice Muñoz, João Perry, Henriqueta Maia e Cecília Guimarães nos principais papéis.
Um elenco de 29 intérpretes dá vida ao espectáculo, assente no belíssimo texto de Bernardo Santareno: Ana Luísa Oliveira (Manuela), Bruno Oliveira (Ângelo), Dária Batista Costa (1ª Velha), Cláudia Henriques (Maria Clara), Filipe Henriques (1º Campino), Joana da Paz (1ª Rapariga), Jorge Paulino (2º Campino), Leandro Pedro/Carlos Vieira (Chico), Maria José Mendonça (Mariana), Maria Manuela Teopisto (Rosária), Maria Teresa Teopisto (Salomé), Pedro Gaivoto (Zé Ruço), Stany Gonçalves (José); e, ainda, Salomé Vieira (Prólogo), Ana Catarina Guerra, Fernando Caetano, José António Leal Teopisto, Mónica Frazão, Paula Gonçalves (Coro), os pequenos, Catarina Henriques, Diogo Frazão, Gabriel Isidro, Leonor Henriques e Ricardo Cintrão, e Vicente Batalha (figuração), completam o grupo e enquadram a acção.Na ficha técnica: Rui Henriques (cenografia), Souzel Vieira, Lubélia Caetano, Maria Aurora Caetano, Maria Emília Cipriano, Maria José Mendonça (guarda-roupa e adereços), COOPERSOM (luminotécnica, Heitor Mendonça, e sonoplastia, Bruno Talhão), e Valter Jesus (apoio de cena). A direcção e encenação de "O Duelo" é de Vicente Batalha, com assistência de Telmo Jesus.
"O Duelo", que alguns estudiosos classificam como "uma tragédia", faz parte do 1º ciclo da obra de Santareno – o "realismo poético" – à semelhança de, "O Lugre", "O Crime da Aldeia Velha", "António, O Marinheiro" (O Édipo de Alfama) e "O Pecado de João Agonia".
A acção passa-se na lezíria do Tejo, no lado de lá da ponte, para as bandas de Almeirim, e tem como pano de fundo o Santíssimo Milagre de Santarém. "O Duelo" trava-se entre os trabalhadores dos campos e os senhores da lezíria. A síntese dessa luta, está expressa, logo no 1º acto, quando a mãe Rosária, num grito abafado, diz ao filho Ângelo, "Eles são os senhores, filho, e a gente os servos, eles podem tudo e a gente nada".
De "O Duelo", disse o crítico João Gaspar Simões (in "Diário de Notícias", em 1961):
"Pela sua linguagem, que é bela, sobretudo na boca de Rosária e Manuela (também de Ângelo e Mariana) e pela sobriedade dos seus lances dramáticos, "O Duelo", quanto a mim, é das peças de Bernardo Santareno que, uma vez em cena, consagrarão definitivamente um dramaturgo já hoje, sem favor, dos mais altos expoentes da dramaturgia nacional."
Do autor, Bernardo Santareno, diz Luís Francisco Rebelo, em "O Teatro Português": "Oscilando entre os pólos (de sinal contrário, mas de força equivalente) de uma fascinação do mal e de uma obsessão de angelismo, o seu teatro realiza a inesperada fusão de temas de raiz popular com as preocupações existenciais mais fundamente sentidas na carne e no espírito do homem seu e nosso contemporâneo."
Texto extraído de Tinta Fresca, Jornal de Arte, Cultura & Cidadania, de 23 de Maio de 2008


O DUELO em Pernes Texto de Rosalina Melro
O Duelo, numa ousada e bem sucedida apresentação do Grupo Cénico da Sociedade Musical União Pernense, fez a sua ante-estreia no passado sábado, 24 de Maio, com a sala esgotada, a que também compareceu o presidente da Câmara de Santarém.
O Duelo é a única peça de Bernardo Santareno que tem como localização a lezíria e a gente da planície ribatejana. O conflito foca aspectos etnográficos, sociais e económicos, nos anos sessenta. A tragédia, pressentida desde a primeira cena, revela-se humana. Caso de amor e paixão, de honra e justiça, de crença e medos. Tudo caminhos que entrelaçam as personagens. De mestre é a direcção, a encenação e a participação especial de Vicente Batalha. Um trabalho que considero das mais significativas homenagens a Bernardo Santareno.
O espectáculo começa com o clássico Coro, que assume função muito particular na antevisão da tragédia. Justifica os aplausos tal ousadia. Há outras funções que, no espectáculo, assumem excepcional relevância: a sonoplastia e a luminotecnia nas mãos e na sensibilidade de Heitor Mendonça e de Bruno Talhão. A cenografia de Rui Henriques e o apoio de cena, sempre muito bem na sua simplicidade. Também o guarda-roupa e adereços merecem louvor pelo cuidado na escolha de modelos e na fidelidade à época.
Maravilhoso o elenco. Aplausos a todos: as mulheres do povo, as raparigas, os campinos, as velhas e aquela estranha feiticeira, tão confiante no seu diabo! Linda, na sua ingénua frescura, a Cláudia Henriques. A Maria José Mendonça faz uma Mariana de actuação muito decidida, sempre bem no desempenho de mulher trave da casa e amiga da mãe de Ângelo, a Rosária é a personagem mais trágica. Personagem excepcionalmente construída por Maria Manuela Teopisto.
Recordo que O Duelo foi escrito em 1961 e representado pela Companhia do Teatro Nacional, em 1971. Então, o papel de Rosária coube a Eunice Muñoz. Papel de elevada tensão dramática, representa uma vida de medo, temor, superstições, mistério e dor. Ela é a mater dolorosa e passa ao filho essa herança trágica.
Também muito forte o trabalho de Ana Luísa Oliveira: a menina Manuela, a patroa, a mulher dona das terras, dos cavalos e dos toiros, mas escrava de coração apaixonada por um servo, Ângelo, o filho de Rosária, o que aprendera, na mágoa da mãe humilhada: "Eles são os senhores, filho, e a gente os servos, eles podem tudo e a gente nada". Surpreendente, o desempenho de Bruno Oliveira, no papel de Ângelo até pela evolução do seu trabalho sobre o palco, aqui representa o homem do povo, o servo que iguala a patroa ao enfrentar o destino trágico. Herói porque herdeiro da tragédia.
Todos ouviram merecidos e prolongados aplausos.
In "O Ribatejo", de 31 de Maio de 2008

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