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quarta-feira, abril 23, 2008

O QUE É A CULTURA ?


O QUE É A CULTURA? (1)
Por Augusto Boal

Palavras são meios de transporte, como o trem, a bicicleta e o avião; a palavra Cultura é um enorme caminhão que suporta qualquer carga. É necessário defini-la, para que saibamos do que estamos falando, quando dela queremos falar.
Cultura é o que estamos fazemos aqui, agora, neste instante, discutindo o que é a Cultura.
Cultura é este microfone, esta mesa, esta sala. Nada disto existia - é fruto da mão humana, executora de nossos pensamentos e desejos.Este encontro não é apenas "um" exemplo do que seja a Cultura: é o máximo exemplo, pois Cultura é a reflexão do ser humano sobre si mesmo e sobre o mundo, e sobre o que faz neste mundo. É o feito e o fazer, é o como fazer o que se faz. É a criação de uma realidade não prevista nos desígnios da Natureza. Um Real objetivo, como a construção de casas e pontes, feitas de pedra; e um Real subjetivo, como a Moral, feita de valores. A Cultura possibilita e engendra a Arte, que é o seu estado supremo e soberano. Uma lenda antiga e distante - e tudo que é distante e antigo nos dá a impressão de verdadeiro - diz que a Arte tornou-se necessária para completar a incoerente e desorganizada criação divina. Deus, segundo a lenda, por mais perfeito, veloz e talentoso que tenha sido, tinha também seus limites, e não foi capaz de completar a Obra que havia planejado, no tempo que havia calculado. Calculou mal: seis dias mostrou-se curto prazo, mesmo para o Todo Poderoso, pois que o Poder, ao existir, fixa seus limites; se não os tivesse, seria também meu, nosso e vosso, seríamos todos divinos: o poder seria substância universal e não predicado do poderoso. Até o Poder tem fronteiras.Deus, cansado - toda força, na exaustão, encontra seus limite - desconsolado e triste, buscou merecido descanso no domingo, mas não sem antes apelar para os Artistas que logo vieram em seu socorro para reorganizar o mundo que ele mal havia - e havia mal - criado. Os sons divinos andavam por aí, espalhados, notas, claves e bemóis - sonoridades ao vento, enlouquecidas na imensidão vazia... Vieram compositores para lhes dar estrutura e razão: eis a sonata, o samba e a canção. A matéria prima era divina; mas a forma tinha os contornos de Villa Lobos, Cartola, Dolores Durán e Nelson Cavaquinho, para não citar nenhum presente.As cores, espalhadas e sem rumo, andavam às turras com o traço, buscando perspectivas na vida e no espaço - vieram os artistas plásticos e pintaram quadros, esculpiram estátuas, grafitaram paredes, e nos fizeram entender o que Deus quis fazer, mas não teve tempo; quis dizer, mas não disse.
As palavras, esses seres estranhos que não existem - são riscos na areia que as ondas do mar apagam; sons, que a leve brisa dissolve com suas carícias -, as palavras eram vazias e tortas, desengonçadas - até que chegaram os poetas para domesticá-las, dando-lhes sentido e destino.
Só os seres humanos são capazes de criar Arte e Cultura - que é a coerência com a qual o Artista vê o mundo, corrige e completa a obra de Deus que, assim, se revela e resplandece. Vivam os artistas! Mas coerência nem sempre é virtude, como nem sempre a Moral é Ética. A Cultura, que faz existir o imaginado, que é invenção do novo, do necessário e útil - e do belo, tão útil como necessário -, pode-se extasiar diante de si mesma e mergulhar nas águas de Narciso. O Artista, inebriado, pode pensar-se Deus e parir a arte pela arte. Pode, ao contrário, congelar seus caminhos, e se estiolar na repetição.
A Cultura, no fio da navalha, cria, destrói e recria. Quando, querendo instaurar o novo, fixamos nossos caminhos, a cultura se cristaliza na Técnica, que nos permite inventar e apressa o invento, mas que pode nos obrigar a segui-la, e servi-la - ajuda ou atrapalha. Quando fixamos nosso comportamento na sociedade, a Cultura se cristaliza na Moral, tão necessária, mas que pode ser odiosa. Tudo, neste mundo em trânsito, transita.
Cultura, traduzida em Arte, deve ser criação permanente, revolucionária, conquista do novo, nunca estratificação do conquistado. Pode-se transformar em Indústria, pode-se inserir na Economia, sim, mas desde que o criador seja o Artista, sempre o Artista, e não o produtor, que deve trabalhar com aquilo que foi criado, e não criar limites à criação. O artista cria o que não existia; o produtor, ao que existe, abre caminhos. Se o produtor serve ao Mercado, deve ter claro que Mercado quer a repetição estéril, do já feito e conhecido, sem sobressaltos; o Artista quer inovar. O Mercado, eclético, mercadeja arte e sabão em pó, porque ambos são necessários e vendáveis, mas não é justo confundir artista e saponáceo. É verdade que nós, artistas, queremos vender nossos discos, livros e quadros, queremos a casa cheia, mas não ao preço da renúncia daquilo que nos explica e justifica: a Arte, que será sempre revolucionária, ou nada será.Repito, sempre, que não temos nada contra o comércio, como tal. Admiro mesmo os comerciantes que fazem do seu comércio uma arte, mas tenho pena dos artistas que fazem, da sua Arte, um comércio.
Cultura, traduzida em Moral, fixa a Tradição. A Tradição, em si, não é boa nem má, pois é criada por sociedades que não são eternas. Devemos cultivar as tradições humanísticas, mas, com energia, rejeitar as cruéis e desumanas.
No mês passado, eu estive na Índia com todo o meu Centro carioca, presidindo a fundação da Federação Indiana de Teatro do Oprimido, na mesma semana em que foi promulgada uma lei autorizando o Estado a tentar dissuadir os pai de forçarem o casamento de seus filhos crianças. A Lei dizia que, se esses casamentos já tivessem sido realizados, seriam válidos por respeito às tradições familiares. Casar crianças e obrigá-las à convivência é crime, e nenhuma tradição pode justificar um crime!Na mesma semana, foi promulgada, na mesma Índia, outra lei, a que protege as mulheres contra a violência doméstica. Está em vigor. Lei radical, exemplar, que condena e pune, não apenas a violência física e sexual, mas até mesmo o palavrão atirado contra a esposa ou namorada, a tia, a sogra, a filha ou a vizinha. Peço aos legisladores, porventura presentes, que levem em conta a sugestão indiana: seja a mulher quem for, nem palavrão, nem com uma flor.Exemplos de tradições culturais odiosas não nos faltam e, entre tantas, podemos citar os flagelos que são as guerras coloniais e as imperialistas, disfarçadas ou não; a pena de morte e a escravidão; o Cassino da Bolsa de Valores que faz, do Mercado, um Deus, e o cinema de Hollywood, Deus do Mercado; os genocídios étnicos, passados e atuais; o mundo em chamas.
Contra essas tradições sempre se lutou. A Revolução Francesa, que representou um bem para a Humanidade, não respeitou as tradições da realeza; nós, se tivéssemos mantido nossas tradições monárquicas, hoje não seríamos República.
Cruéis tradições devem ser combatidas com vigor por serem contrárias à humanização do ser humano. Mas devemos recorrer às nossas boas e sadias tradições quando somos invadidos pela mídia globalizada, arte enlatada, notícias manipuladas, ódio racial, pensamento único. Isto é a Cultura: acabar com as tradições malsãs criando novos caminhos, inventar uma Ética. Se, no Brasil, já foi tradição a fome no Norte e Nordeste, Cultura é dar de comer ao faminto. Se é tradição o latifúndio improdutivo, Cultura é permitir que, quem sabe, pode e quer, que o faça produzir. Se foi tradição servil imitar a arte alheia, surgiram os Pontos de Cultura para liberar a nossa criatividade, engenho e arte. Os Pontos de Cultura vêm nos lembrar que não se pode privatizar a denominação de Artista, pois Artistas somos todos nós, seres humanos: somos os inventores do mundo. Todos nós somos capazes de produzir Arte - não uns melhor que outros, mas cada um melhor do que si mesmo. Esta é, em Arte, a única competição que devemos aceitar: eu, comigo. Como escreveu o poeta quinhentista português, Sá de Miranda: "Comigo me desavim, sou posto em todo perigo, não posso viver comigo, nem posso fugir de mim".
Isto é Arte: todos nós conosco nos desavimos e, como somos artistas, nos desaviremos sempre, conosco e com o mundo, até mudarmos o mundo que temos, e mudar o que faremos.Se era tradição nortear nossos passos pelo que fazem os países do Norte, temos agora que usar o neologismo de um amigo meu, temos que "sulear" nossos caminhos, estendendo a mão amiga aos países que estão nesta mesa, e a outros que, nesta mesa, também têm assento e, no nosso coração, lugar. Reconhecemos a nossa fraternidade com os países da América Latina, como o Equador; africanos, como a África do Sul; asiáticos, como a imensa Índia; e eu, como bom português trasmontano que também sou, de Justes e Vila Real, saúdo a presença querida de Portugal. Muito obrigado.

NOTA
1. Intervención en la mesa redonda "¿Qué es la cultura?", Río de Janeiro, Fórum Cultural Mundial, 24 de noviembre de 2006.

(Retirado dos Cadernos do CELCIT, n.º 31)

terça-feira, abril 22, 2008

ÚLTIMAS NOTICIAS


Um livro obrigatório para os amantes do Teatro


UMA SETA TRANSPORTADA NA MÃO DA TESTEMUNHA

O Espaço Vazio, de Peter Brook



texto Pedro Manuel (extraído da revista OBSCENA

Voltar ao espaço vazio será regressar à linha de partida. E voltar, aqui, não será tanto regressar atrás no tempo, mas reencontrar o lugar do teatro. E, para Peter Brook será sempre um lugar partilhado, entre quem vê e quem dá a ver.
À primeira vista, a edição portuguesa de O espaço vazio traz o sabor de um reencontro e apresenta-se já recoberta com o estatuto dos clássicos: é publicada quarenta anos após a edição original e inscreve-se no contexto social e teatral dos anos 60. Nesse sentido, peca por tardia e, naturalmente, nestes quarenta anos já foi lida por quantos a quiseram encontrar. No entanto, faz sentido trazer esta obra ao dia, na medida em que é determinante a acessibilidade em português a obras-base sobre artes performativas, assim como Peter Brook é um encenador activo e presente, continuando a moldar o território teatral com a sua experiência e experimentação.
Mas, sobretudo, em O espaço vazio, é o discurso de uma testemunha que importa descobrir. Não só pelo olhar datável, mas pela visão pessoal, atenta, reflectida, culta.
O início do texto é exemplo da forma como orienta as observações com o seu pensamento: “Posso chegar a um espaço vazio qualquer e usá-lo como espaço de cena. Uma pessoa atravessa esse espaço vazio enquanto outra pessoa observa – e nada mais é necessário para que ocorra uma acção teatral.” A partir daqui o texto estrutura-se em quatro blocos temáticos (o Teatro do Aborrecimento Mortal, o Teatro Sagrado, o Teatro Bruto e o Teatro Imediato) e, em cada um, Brook descreve e disserta sobre o teatro: da Royal Shakespeare Company ao Living Theatre, dos happenings a Grotowski, passando por diversos autores, para além das histórias de vudu haitiano ou o excelente exemplo dos escravos do México - ou não tenha Peter Brook contribuído para uma certa “globalização” das artes perfomativas, presente ainda nos seus espectáculos.
A análise de cada caso tem por prumo a eficácia da comunicação teatral. O excerto citado vale como uma axioma nesse sentido e diz bem João Mota (numa entrevista sem perguntas, apresentada como posfácio, mas com valiosas passagens sobre a sua experiência como actor com Peter Brook): “O espaço vazio é mais do que um espaço cénico: é um espaço interior”. Não um regresso ao passado, um momento anterior, mas um lugar interior. Trata-se de pensar a comunicação teatral e, em última análise, a comunicação humana que, no espaço-tempo teatral, se torna um instante de partilha.
Será ainda interessante inscrever O Espaço Vazio junto de outros clássicos teatrais pelo seu carácter vivencial, empírico (Stanislavski, Meyerhold, Brecht, Grotowski). Fala a “voz da experiência”, de quem esteve lá, a voz da testemunha. Como as palavras de João Mota. A literatura sobre teatro está cheia de perspectivas biográficas, de “Memórias” de inúmeros actores, e isso deverse- á, talvez, à humanidade desse acto comunitário. É por isso que o teatro pode acontecer em qualquer parte e, quando acontece, “cria memória”, como diria o encenador João Brites.
A passagem do “Teatro do Aborrecimento Mortal” para os outros tipos de teatro é a passagem de um espaço cheio (de artifícios) para espaços vazios, isto é, interiores. Ainda assim, a testemunha Peter Brook coloca-se de forma ambígua, entre o encenador e o espectador e, em cada caso, observa a comunicação desse interior, o preenchimento desse espaço. Mas é a qualidade do seu testemunho que tornam O espaço vazio um clássico: ao mesmo tempo que data uma época fervilhante, recolhe ao interior, para pensar a memória e narrá-la do seu ponto de vista, montando o seu teatro. Um livro obrigatório na estante dos estudos de teatro mas, sobretudo, um convidado muito especial para receber na sala de estar.

(€15, Orfeu Negro tradução de Rui Lopes)

A PRIMEIRA VEZ


por Paulo Sacaldassy

Como explicar esse momento mágico? A primeira vez sobre um palco é sempre inesquecível. Mas, tudo o que envolve esse momento, transcende a qualquer lucidez da razão. Na noite anterior da apresentação, a barriga dói, a ansiedade toma o lugar do sono, o medo de esquecer o texto já apavora, e um rolar na cama é o movimento mais constante.
Eis então que chega o grande dia, as olheiras denunciam a noite mal dormida e a ansiedade se faz companheira, mesmo com todos os exercícios na tentativa de reverter, ela parece incontrolável. E quanto mais se aproxima a tão desejada hora, mais o nervoso se faz presente.
Ufa! Já no camarim, maquiagem pronta, figurino vestido, o texto passado e repassado várias vezes, a respiração um pouco mais controlada, demonstra uma certa dose de auto-controle. Mas, o burburinho vindo da platéia aumenta a adrenalina, as mãos suam, a barriga volta a doer, o suor corre insistentemente sobre a maquiagem retocada por várias vezes.
Primeiro sinal. Ai, meu Deus! Agora não tem como voltar atrás! Segundo sinal. Nervossismo, suador, dor de barriga, concentração, tensão. Terceiro sinal. Merda!… Merda!… Merda!
Agora sim, em cima do palco, cortinas abertas, o texto na ponta da língua, o nervossismo ficou nas coxias, a dor de barriga ficou para trás, não tem mais ansiedade, o suor agora verte da interpretação, a tensão agora faz parte do drama e a emoção de estar sobre o palco, dá o seu lugar às emoções da personagem.
Parecia que não chegaria, mas passou tão rápido que dá vontade de fazer e passar por tudo de novo. E acho que é por isso que quem sobe ao palco pela primeira vez, e sente esse turbilhão de sensações que nos revira por dentro, sempre quer mais e mais.
O teatro é assim, sempre vai ser como a primeira vez, e não interessa quão experiente a pessoa seja, ela sentirá sim, tudo, tudo do mesmo jeitinho, como se fosse a sua primeira vez. Por tudo isso, se hoje for a sua primeira vez, muita Merda para você!


Paulo Sacaldassy, dramaturgo, roteirista, poeta e letrista. Mantém um blog chamado "poucas palavras" onde publica poesias e artigos. Colabora como Colunista do site Oficina de Teatro.

Vai começar o 27º FAZER A FESTA


27º Fazer a Festa - Festival Internacional de Teatro
25 de Abril a 4 de Maio de 2008


É já no próximo dia 25 abril, sexta-feira, que se inicia a 27ª edição do “FAZER A FESTA – festival Internacional de Teatro” evento que o Teatro Art’ Imagem mais uma vez organiza nos jardins do Palácio da Cristal, na cidade do Porto.
A Aldeia Teatral e a diversidade de propostas e companhias que ocupavam de manhã à noite os jardins e espaços deste pulmão verde no centro da cidade e que, por força das circunstâncias, quase tinham desaparecido nos últimos anos, voltam (ainda que timidamente) em 2008, nestes dez dias cheios de todo o teatro. É, pois, com alguma esperança que apresentamos a edição 2008 do "Fazer a Festa"- Festival Internacional de Teatro, que apresentará 27 companhias, com 30 espectáculos diferentes e um total de 39 representações.


Aos sábados e domingos e nos feriados do 25 Abril e do 1º de Maio haverá vários espectáculos à tarde dirigidos a todos os públicos.


Aos dias da semana, de manhã e de tarde, a programação é dirigida, principalmente, aos grupos escolares, apresentando espectáculos no auditório da Biblioteca Almeida Garrett
Estará ainda patente ao público uma exposição de cartazes denominada "O Fazer a Festa em Cartaz(es)" e a projecção videográfica "Vinte e Sete Anos a Fazer a Festa", ambas da autoria de Cristiana Correia, que visam reavivar as memórias das várias edições do Festival desde a sua primeira edição em 1982.

A bilheteira funcionará diariamente nos jardins do Palácio das 15:00 às 23:30) e os preços são os seguintes
espectáculos das 16:30 - 3,00 (m/ 12 anos) e 5,00
espectáculos das 21:30 - 5,00 (preço único) espectáculos das 23:30 - 3,00 (preço único)
CONSULTE PROGRAMA MAIS ABAIXO, NESTE BLOG

sexta-feira, abril 18, 2008

Reflexões sobre o Teatro Associativo

REALIDADES DO TEATRO ASSOCIATIVO



(Excerto da Intervenção proferida no encerramento do Festival de Teatro de Amadores de Gaia em

Março de 2006)

I - Rememorando
Não quero pronunciar-me aqui sobre nenhum grupo em particular, mas prefiro abordar um pouco da essência e dos arquétipos que caracterizam o Teatro de Amadores.
Felizmente ainda há múltiplas colectividades que teimam, estoicamente, manter viva uma arte que sempre se considerou em crise.
Por isso, não faltam as aves agoirentas e os profetas dissimulados que passam o seu tempo a tocar nas trompas da desgraça, anunciando a MORTE DO TEATRO. Diga-se de passagem que não estão sozinhos. Muitos outros, gente dita «respeitável», não só pelas gravatas que exibe, pelos carros em que se desloca, pelas vezes em que aparece nos jornais ou na TV, as conhecidas toupeiras dos sinusoidais corredores do poder, contribuem de forma acelerada para
tentar minar a solidez do esforço que conduz à Arte Teatral.
Mas há também esses, os que ainda acreditam na imensa força cultural do Teatro e por isso a ele se entregam de corpo e alma, esquecendo chuvas e cansaços, relegando lareiras e confortos, cerrando os dentes de coragem e caminhando pelos difíceis e acidentados caminhos de Téspis, entrando sem medo na caverna de Eurípides, percorrendo corajosamente as ruas de Roma, dando o braço do humor corrosivo a Plauto, espreitando o Paço para rir de frades e alcoviteiras, embarcando nas Barcas de Mestre Gil, mesmo que alguma delas os transportem ao Inferno, ora sentindo-se «Todo-o-Mundo», ora assumindo a consciência clara de «Ninguém», mais adiante percorrendo as ruas londrinas da imundície e da promiscuidade, para usufruir de um Sonho de Uma Noite de Verão, enfrentando tempestades shakespearianas, atravessando o canal e desembarcando no Palácio da Borgonha para rir do Avarento, do Misantropo, do Médico à Força, e assistir, de lágrimas nos olhos, ao Doente Imaginário que morre em pleno palco.

São estes que mais tarde experimentarão novas estéticas, desde o romantismo de Vítor Hugo ao naturalismo de Ibsen, do absurdo de Beckett à revolta incontida e corajosa de um Harold Pinter.
Em todo este percurso, sempre foram assistindo à morte anunciada do Teatro, desde o cristianismo primitivo aos ambulantes das carroças medievais, dos mimos da Commedia dell’Arte à Comédie Française, de Lope de Vega a António José da Silva, de Strindberg a Lorca, experimentaram diversificadas propostas bebidas um pouco ao sabor da experiência colhida em Brecht, Piscator, Pirandello, Artaud, Grotowsky, Boal, Jaime Salazar Sampaio ou Bernardo Santareno e tantos outros que lançavam ao Teatro desafios para um renascimento contínuo.

A «anquilose teatral» não se consumou e o Teatro soube sempre ressurgir com novas forças, retemperadas ora pela supermarioneta de um Gordon Craig, ora pela técnica ainda hoje obrigatória de um Stanislavsky, fontes em que beberiam mais tarde - e avidamente - os grandes e modelares actores americanos (como Marlon Brando ou Paul Newman, James Dean ou Roberto de Niro), formados nesse “ABC” do Actor’s Studio e que os amadores acabariam por assimilar através do cinema, no Cine-Teatro de Gaia ou no Estrela-Cine de Coimbrões, no Odeon ou no Batalha. E complementando o que viam no cinema, escutavam depois nos pequenos salões das colectividades as palavras de ensaiadores e encenadores, muitas vezes fruto de um saber de experiência feito.

2 - A realidade portuguesa
Entretanto, no Portugal do século XX viviam-se duas realidades perfeitamente distintas: de um lado a revista, com todo o cortejo de críticas a um regime ferozmente censório, pontilhando as piadas com metáforas e alegorias na tentativa - nem sempre alcançada - de enganar os tão estúpidos como vigilantes «coronéis do lápis azul»; do outro, um teatro nacional, parido nas entranhas do regime, cuidadosamente evitando criações que duplicassem as fogueiras onde já haviam padecido, duzentos anos antes, génios como o Judeu e obrigando a que autores como Rebello ou Santareno, implacavelmente perseguidos pela Censura, redigissem ― nos finais da década de setenta ― pungentes despedidas do teatro que, felizmente, Abril veio impedir.
Estávamos, então, num país sem televisão, sem PC’s nem DVD’s, sem salas de cinema com pipocas.
«Era uma vez um País
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra»

como escreveu o poeta. Era, pois, no seio das colectividades, entre homens e mulheres que à noite se encontravam e conviviam, após a fadiga de penosas jornadas de trabalho, que sobrevivia um teatro humilde e carente de meios técnicos, culturais e humanos. Assim se fazia (ou ia fazendo) o Teatro nas colectividades, com actores que muitas vezes nem sabiam ler, uns com ensaiadores, outros com encenadores, uns e outros verdadeiros motores dos espectáculos, com cenários concebidos na fértil imaginação dos criativos artistas sem escola, tantas vezes com figurinos anacrónicos e completamente desajustados, iluminados por latas com lâmpadas e sonoplastia suportada por efeitos em chapas, vozes, assobios, areia escorrendo e tantas outras soluções verdadeiramente insólitas mas sempre imaginativas.
A própria produção literária dramática raramente chegava ao público leitor sem que a censura extirpasse tudo quanto, no seu entender inquisitorial, pusesse em causa os valores do modus vivendi do regime.
Mesmo assim, eram os amadores a verdadeira Fénix do Teatro.
Por volta dos anos cinquenta, alguns dramaturgos portugueses ensaiam novas estéticas: estamos a lembrar-nos, entre outros, de Luís Francisco Rebello e das suas experiências no Teatro do Salitre, por exemplo, em breve seguido por muitos outros. No Porto explode a «bomba» de um novo teatro, despoletada pelo grande António Pedro no TEP, em breve tornado fábrica de grandes actores, muitos deles oriundos das fornadas locais das colectividades. Uma nova escola de estéticas e de actores e técnicos veio, deste modo, contribuir decisivamente para a renovação de muitos dos grupos de amadores. E se os concursos do SNI tiveram o senão da competição artística que culminou, em muitos casos, no endividamento dos grupos e até em disputas de chauvinismos regionais ou locais que prejudicavam o movimento teatral, sem dúvida permitiu também uma renovação importante nos gostos e nas opções dos que tinham o Teatro como paixão complementar do seu labor profissional.
É certo que nem todos os grupos acompanharam uma renovação que seria de esperar e... desejar. Mas teriam sido eles os únicos culpados?


É sabido que a televisão, como serviço público que é ― por enquanto ― tem por obrigação fomentar o gosto pela arte, de que o Teatro constitui parte integrante. Mas é inegável que HOJE a Televisão não tem nenhum programa de teatro nem exibe regularmente as peças que possui em arquivo. É também inegável que a comunicação social se mantém alheada do fenómeno teatral amador ou associativo e às vezes até parece que quando sai alguma notícia, tal aconteceu por engano. Os críticos estão todos inscritos no Fundo do Desemprego, mas sobram as revistas côr-de-rosa do «jet oito», empenhadíssimas em informar-nos sobre o volume de silicone de Fulana, da «facada matrimonial» do senhor X, da beleza do corte do vestido das «Lilis» e de festas e banquetes onde se gasta mais dinheiro que na montagem de qualquer peça de teatro.

MAS O TEATRO TEIMA EM RESPIRAR!
3 - A realidade do teatro associativo
Um pouco por toda a área do Grande Porto há (ainda) vários grupos a montarem espectáculos teatrais com alguma regularidade. Naturalmente, há espectáculos melhores e outros de menor qualidade.
Importa, porém, perceber as razões por que a qualidade é, por vezes, tão diferente entre os grupos ou mesmo tão diversa entre as várias produções dum mesmo grupo.
A primeira razão, quanto a nós, tem a ver com a preparação dos próprios encenadores, técnicos e actores. Sabemos que há grupos que dispendem somas importantes para dotar os seus grupos de competentes encenadores, cenógrafos e (ou) figurinistas, técnicos diversos. Mas há outros ― a maioria ― que não podem dar-se a essas ousadias.
Além disso, há ainda encenadores que, depois de estreadas as peças, partem para outros grupos, abandonando o trabalho de formação (que deviam ter) desenvolvido, ignorando a lição basilar de que o verdadeiro espectáculo teatral começa após a estreia. Isto significa que, após algumas representações, os espectáculos pouco têm já a ver com o projecto de criação inicial, acabando numa mescla de «inovações e de improvisações» de duvidoso mau gosto. Muitos dos pormenores, do cenário aos figurinos, da luz à caracterização, tudo cai num facilitismo que descaracteriza e compromete um trabalho que demorou meses a erguer. É evidente que não defendemos a obrigatoriedade de o encenador acompanhar todos os ensaios que terão de fazer-se posteriormente à estreia. Mas não deve abandoná-los pura e simplesmente. Além dele, para os ensaios de rotina, é imprescindível a existência dessa figura tão importante como esquecida (nalguns meios) do ensaiador, aquele a quem compete a grande tarefa de manter inviolável a integridade do projecto da encenação.

Assim, deixa de haver continuidade de projectos e de escolas que poderiam e deveriam consolidar a formação teatral das associações.
Surgem novos encenadores, novos cenógrafos, novos técnicos de luz e de som, por vezes mesmo novos actores. É um novo trabalho, no fundo, que não raro faz tábua rasa da preparação e dos ensinamentos anteriores.
Perde-se, deste modo, o carácter propedêutico, o sentido de «escola» que deve permanecer subjacente a qualquer grupo. E não é possível fazer escola sem um projecto que se prolongue, no mínimo, por algum tempo.
Ora, é precisamente aqui que «a porca torce o rabo». Efectivamente, sem um projecto teatral e meios financeiros que permitam sustentar um programa de acção com continuidade, qualquer grupo tende a montar espectáculos de diferenciada qualidade, não adquirindo mais valias culturais e artísticas, nem formando quadros que no futuro possam garantir a própria autosuficiência dos grupos.
Não se pense, contudo, que culpamos disto as colectividades. As autarquias e sobretudo o Estado têm, também neste aspecto, uma particular responsabilidade. É que não chega atribuir-se subsídios pontuais, mas deveriam promover-se regularmente encontros para, através do intercâmbio, se colherem experiências alheias, tão úteis ao desenvolvimento. E, mais que subsídios, proporcionar condições de apoio logístico aos grupos (publicidade, transportes, etc.) para que estes possam dar-se a conhecer dentro e fora das suas regiões. Mas sobretudo, investir na contratação de técnicos que, durante um ou dois anos, trabalhem nas colectividades para, com a sua experiência e saber, contribuirem para o desenvolvimento cultural e artístico dessas associações.
E, finalmente, que os planos curriculares dos estudantes contemplem, de facto, as disciplinas de expressão artística, «semeando» o gosto pelo teatro nas camadas jovens, das quais sairão, por certo, aqueles que poderão insuflar nova vida cultural ao movimento associativo.
Esta deveria ser a política do País para o movimento associativo em geral, implicando ― obviamente ― as autarquias locais que, neste aspecto, têm particulares responsabilidades.

Uma nota final para uma conclusão cínica:
Sabiam que o Teatro é irmão do Político e quase nunca estão de boas relações? Porque, filhos ambos do mesmo Pai (o Homem) e da mesma Mãe (a Natureza Humana), ambos intervêm no quotidiano e os seus objectivos entram frequentemente em conflito.
O Político sabe perfeitamente do grande amor que o Teatro tem pela Liberdade e como quer, casado com ela, despertar os homens e o mundo. O Político materializa a ancestral vingança de Zeus contra Prometeu: o Político, embebido nas teias eróticas da Ambição, busca uma relação promíscua e de conveniência que lhe permita decidir, juntamente com a sedutora, da vida e do destino dos humanos, sem ser perturbado pelo fogo do conhecimento que o Teatro pode levar às massas.
Ao longo dos séculos temos assistido a sistemáticas tentativas de fratricídio, com o Político (vestindo trajos de tirano ou de religioso ― mais recentemente usa fatos de bom corte e gravatas italianas) a tentar amordaçar ou mesmo apunhalar o irmão Teatro. Primeiro, na Grécia, onde se tentou calar os dramaturgos; assim foi em Roma, porque Nero não logrou ser o actor de fama que ambicionava; assim foi, durante séculos, nos primórdios do cristianismo. Mas, viajando de carroça ao longo dos tempos, mais tarde entrando de carruagem nos palácios dos mecenas e dos próprios reis, hoje viajando de carro, de comboio ou de avião, tendo já um lugar cativo na própria NET, o Teatro sobreviveu sempre.
Crucificado e recrucificado, o Teatro soube sempre reerguer-se do túmulo onde o Político pretendeu sepultá-lo e de cada vez partiu com uma nova mensagem, com um novo sorriso, com uma nova vontade, com uma nova esperança, com um novo sonho, com um novo projecto de Futuro.
Num palco convencional ou numa barraca improvisada, na arena de uma praça ou no espaço estreito de uma rua, no interior de um supermercado ou num recanto de um qualquer centro comercial, o Teatro acontece, pode acontecer, e em todas essas ocasiões é o Homem, o Homem autêntico que se procura a si mesmo para construir o seu próprio itinerário, para criar o seu próprio Futuro. Aí reside a sua força. Aí habita a verdadeira Fé que só os crentes da religião teatral cultivam: um Amanhã diferente com um Homem diferente. Porque, como escreveu Elsa Triolet, «o futuro não é uma melhoria do presente. É outra coisa».
Recordemos o que escreveu Federico García Lorca:
«un pueblo que no ayuda y no fomenta su teatro, si no está muerto, está moribundo». — Rompamos o silêncio! Apedrejemos a ignorância! Expulsemos o oportunismo! Matemos a morte! Façamos Teatro!

Fernando Peixoto

terça-feira, abril 15, 2008

A CANTORA CARECA em Ermesinde


O Grupo de teatro CASCA DE NÓS vai levar à cena a conhecida peça de

Eugène Ionesco


A CANTORA CARECA


Encenada por José Gonçalinho, a peça será apresentada no Fórum Cultural de Ermesinde
nos próximos dias 18 (Sexta-Feira) e 19 de Abril (Sábado), pelas 21,30 horas.
No dia 20 de Abril (Domingo) será apresentada às 16,30.

NOTA:
«Eugène Ionesco

Slatina, Roménia, 1912

Comediógrafo francês. Filho de pai romeno e mãe francesa, em 1940 mudou-se para França. Estreou em Paris, onde tinha passado parte da sua infância, A Cantora Careca.

Trata-se de uma comédia num acto classificada pelo seu autor de anticomédia e que se caracteriza pelo seu surrealismo verbal. A sua comicidade, baseada mais no absurdo do que no significado, é uma constante do teatro de Ionesco.

A Cantora Careca desenrola-se da seguinte forma.

No interior de Inglaterra, tipicamente burguês, o casal Smith conversa dizendo banalidades com pouco sentido; aparece Mary, a criada, que anuncia a visita dos Martin. Entram, sentam-se e, como se não se conhecessem, iniciam um diálogo; ao fim de algum tempo, depois de um acumular de ocorrências, em virtude das coincidências apercebem-se de que são marido e mulher. Entra um bombeiro à procura de um incêndio. Quando se vai embora, os quatro personagens entabulam um diálogo sem substância que vai subindo de tom até que adoptam atitudes ameaçadoras. Por fim, as frases não têm sentido e as palavras desarticulam-se limitando-se a sons. As luzes apagam-se e, quando voltam a acender-se, a comédia volta a iniciar-se: os Martin ocupam o lugar dos Smith e voltam a repetir-se as ocorrências iniciais.»

domingo, abril 13, 2008

TEATRO DE AMADORES E TEATRO PARA A INFÂNCIA

I - TEATRO DE AMADORES - TEATRO DE AMOR
O teatro de amadores constitui uma realidade artística com caracteres bem específicos e toda a tentativa em aproximá-lo do teatro de profissionais torna-se não apenas estultícia mas mesmo manobra de adulteração. É que, desde a proposta motivadora que está na origem do grupo de amadores, até à demonstração do produto final __ o espectáculo __ há todo um itinerário intermédio de diferenciados matizes, de soluções originais, de recursos específicos que só na aparência lembram os grupos profissionais. O que __ é bom que se diga __ em nada invalida a qualidade dos primeiros face aos segundos. Nem se pense __ como alguém já ousou fazê-lo __ estabelecer entre ambos uma relação como se o primeiro fosse uma espécie de boneco da Rosa Ramalho e o segundo uma escultura de conceituado artista do "mercado" das ar­tes plásticas.
O teatro de amadores possui uma idiossincrasia própria que lhe vem tanto de quem o faz como dos destinatários a quem se dirige. Mas também __ e essencialmente __ dos caracteres múltiplos que se lhe agregam, como resultantes do invariável destino da itinerância que marca indelevelmente as suas criações.
Os amadores constituem-se genericamente a partir de grupos de pessoas etária, social e culturalmente diversos e reside precisamente no eclectismo da sua constituição, uma das características mais notórias da sua existência. Por outro lado, são igualmente heterogéneos os públicos a que chegam, disto decorrendo exigências e opções bem distintas das que se colocam aos profissionais. Há muitas razões (outras) para explicar o estrénuo amor das gentes aos seus grupos e ao teatro. Mas de todas, por certo avultará o gosto adormecido em nós, adultos, por essa arte maravilhosa que em crianças tanto cultivámos: a arte sedutora do "faz-de-conta". Arte que seduz os actores, mas também, por empatia, os próprios espectadores.
Ora, parece-nos que o teatro de amadores possui condições privilegiadas no que toca ao teatro destinado à infância e, quando nele se encaminha preferencialmente, não raro obtém melhores resultados no contacto com as plateias. Cada vez é hoje mais notória a diminuição dos grupos de amadores nas grandes zonas urbanas, por contraste com a vitalidade dos grupos das zonas do interior ou mesmo rurais, fenómeno que a sociologia cultural por certo explicará e que não pretendemos aqui e agora dissecar.
Importa-nos, isso sim, chamar a atenção para uma outra realidade: o teatro de amadores é um teatro de amor. Não há nele a vedeta que salta de patrão em patrão à busca dum melhor vencimento; não há nele lugar para a ditadura intelectual do encenador, ou do cenógrafo e, bem pelo contrário, discute-se, quantas vezes com saudável ingenuidade, as próprias opções dos técnicos: não há nele a superação das incapacidades dos actores pelo recurso sistemático aos efeitos especiais, sofisticados, de luz, de cenários, de música, de figurinos, como tantas e tantas vezes se encontra nos profissionais; e, finalmente, não há nele contratos vinculativos, como algemas, entre os actores e a companhia. Do teatro de amadores se sai, para ele se entra, sem que por um só momento perigue a nossa liberdade. Adesão, entrega, dádiva total, contrato de amor, em suma, que tem como única contrapartida a reciprocidade desse amor, traduzida nos aplausos da plateia.
Uma relação amorosa deste tipo implica necessariamente uma grande dose de disponibilidade afectiva, razão pela qual afirmámos atrás que o amador de teatro está, assim, em condições privilegiadas para desenvolver o teatro para a infância. Ninguém, como as crianças, possui uma tão grande capacidade de receber e retribuir afectividade.
II - TEATRO PARA A INFÂNCIA E NÃO TEATRO INFANTIL
Também pertencemos ao número cada vez maior dos que rejeitam a expressão "teatro infantil".
Se aceitamos que o teatro é uma arte, aceitaremos desde logo a sua universalidade. E tal como os sons duma sinfonia serão escutados de forma diferente, conforme os gostos, a sensibilidade e a cultura musical dos ouvintes, também a linguagem teatral será absorvida ou terá diferentes leituras, consoante o nível etário, cultural ou social dos espectadores. Nada disto, contudo, impede que se crie uma obra de arte a pensar num público específico. O "Pedro e o Lobo" de Prokofiev, não deixará de ser belo quando escutado por crianças ou apenas por adultos. Charles Dickens seduz igualmente novos e velhos e os contos dos Grimm ou de Andersen não perdem o fascínio desde que o leitor não se acoberte sob a capa do adulto imbecil e insensível. Já vimos, de resto, dezenas de crianças vibrarem com peças de Gil Vicente ou Molière, permanecendo indiferentes e mesmo frias diante de espectáculos que lhes eram especificamente destinados. A própria pintura pode ser mais facilmente entendível por uma criança do que por um adulto leigo e insensível. É o caso, por exemplo, da pintura egípcia, cujos cânones por vezes nos recordam os desenhos feitos por crianças. E o cubismo, nos seus princípios originais, estaria assim tão distante da "visão" infantil sobre os objectos ?
Mas que teatro, então, para a infância ?
Concordamos que se pode e deve escrever propositadamente para as crianças, tal como se deve criar espectáculos para elas. Mas num como no outro caso, terá de presidir a preocupação primacial, isto é, criar arte. E deve-se precisamente ao esquecimento desta necessidade primeira o aparecimento de textos e realizações verdadeiramente primárias, no sentido pejorativo do termo, de peças sem o mínimo de qualidade, que mais não são que verdadeiros atentados à capacidade intelectual das próprias crianças.
Ora, um texto ou uma representação teatral não podem constituir atestados de menoridade. É necessário, parece-nos, que antes de mais o adulto se preocupe em fornecer instrumentos que permitam à criança a descoberta do conhecimento, que a sensibilize para os problemas com que terá de defrontar-se num quotidiano de progresso físico e de evolução intelectual, que ela aprenda a reconhecer e a respeitar as diferenças, via importante para ir limando as arestas do egocentrismo típico da infância; que se lhe estimulem as várias capacidades, como a de observação, de análise, de criatividade, num programa coerente que não erradique nem condicione a variedade de leituras própria dos diferentes níveis etários.
Há, ou deve haver, pois, uma preocupação formativa, orientadora, não dirigida. A criança é um ser em formação e não um adulto anão, mas tem da liberdade e dos seus direitos noções muito próprias que o adulto não tem o direito de violar. É generosa e disponível, dois importantes capitais que o teatro não pode inflacionar, e sobretudo possui grandes necessidades de descoberta e de afectividade.
O teatro de amadores, pelo seu contacto com públicos heterogéneos, por vezes mesmo bastante espontâneos nas suas reacções, não raro intervindo com comentários no desenrolar da acção, públicos que não se retraem de em qualquer momento tomar partido, está em condições invulgarmente vantajosas para melhor compreender uma plateia despida de vícios como a infantil.
É óbvio que falamos do teatro de amadores que se assume conscientemente como tal, e não de grupos que, usando a mesma etiqueta, se preocupam apenas em camuflar-se de profissionais sem vencimento, ou aqueloutros, doentes endémicos do vedetismo, apenas interessados em pisar os palcos para exibição narcísica ou para colmatar frustrações ancestrais.
Possuidores duma experiência que lhes vem da vida fora dos palcos, a que aduzem o trabalho cultural do teatro, os amadores podem __ e fazem-no __ proporcionar às crianças um teatro que é já uma obra de arte, mas essencialmente um instrumento importante para o desenvolvimento do processo de conhecimento.
III - ALGUMAS QUESTÕES DE PORMENOR
É sabido que uma plateia infantil barulhenta constitui sintoma de que se está perante uma obra desinteressante e nessa altura é preferível mandar calar o espectáculo.
As reacções ao espectáculo para a infância são díspares e por vezes totalmente inesperadas. É que a criança reage a pormenores ou a situações em consonância com a idade que possui, o que condiciona, naturalmente, a sua atenção e a sua sensibilidade. Ela rejeita a inverosimilhança, mas aceita a fantasia; é atraída para a cor, para a forma, para o som, para o movimento, mas são diferentes os níveis de sensibilização provocados por estes estímulos e por isso o espectáculo teatral pode ser recebido de modo diferente consoante a predominância de um ou de outro grupo etários. Eis por que um espectáculo teatral para a infância nunca está acabado, nem mesmo quando se retira de cena. O que Meyerhold dizia para o teatro em geral, isto é, que a peça só começava verdadeiramente após a estreia, assume relevância particular no teatro para a infância. Assim, nenhuma cenografia, sonoplastia ou luminotecnia e, consequentemente, nenhuma encenação se podem considerar definitivas no teatro para a infância, mas terão de ser concebidas como algo susceptível de contínua mutação, adaptação e transformação. Objectos e pessoas (os actores) deverão possuir maleabilidade e grande dose de disponibilidade para esta verdadeira dialéctica do conhecimento e da acção teatrais.
O ritmo, as imagens, a cor, a coreografia, tudo produz estímulos e são eles que desencadeiam as reacções. Ora, se a criança é um ser em formação, se o teatro é um instrumento privilegiado no processo do conhecimento e tem necessariamente preocupações formativas, então deverá rejeitar todo e qualquer estatismo susceptível de fazer parar esse movimento do contacto com o conhecimento, feito aqui pela via da arte.
Posto isto, defenderemos então uma vez mais a utilidade do teatro de amadores como aquele que mais capaz se apresenta para oferecer um teatro despojado, não artificioso, um teatro que viva essencialmente do conteúdo, em suma, um teatro simples, assente quase totalmente no processo de comunicação recíproca entre os adultos-actores e as crianças-espectadoras. Com isto estamos bem longe de pensar num teatro pobre, num teatrinho miserável. Só que, pelas suas exíguas possibilidades, conjugadas com a permanente prática da itinerância, o teatro de amadores terá de suprir, pelas capacidades comunicativa e criativa, pelo recurso à imaginação, pela arte, em suma, os artifícios técnicos de que em regra se servem, e muitas vezes mal, os grupos profissionais.
Uma criança não deixa de navegar ou de andar de bicicleta só porque não possui um barco ou um velocípede e colmata a lacuna construindo-os, em madeira, em papel ou em arame, quantas vezes limitando-se apenas a cerrar os olhos. E é nesses instantes de criação que ela é mais feliz.
IV - A POLÍTICA DOS ADULTOS
Há, de facto, muita intencionalidade nos erros crassos que se observam na política. As crianças não votam, logo são "cidadãozinhos". Por isso mesmo deparamos com os políticos mais empenhados nos subsídios e apoios aos espectáculos musicais e futeboleiros, para adolescentes e adultos, enquanto esquecem os grupos vocacionados para a infância, com os primeiros auferindo ganhos avultados, além da bilheteira.
É justo reconhecer que os grupos profissionais vocacionados para a infância são ainda aqueles que promovem uma itinerância significativa. Mas neste escalão, profissionais como amadores permanecem como parentes pobres da política para o teatro, situação que se agrava ainda mais pelo facto de em regra não auferirem proventos de bilheteira e, mesmo quando vendem bilhetes, os resultados são tão insignificantes que não chegam a alterar a situação. Por isso se percebe o porquê de haver tão poucos grupos profissionais a dedicarem-se ao teatro para a infância: é que mesmo os amantes do teatro se cansam de o amar de forma masoquista.
Infelizmente a história do rebuçado funciona ainda, e muitos se convencem que qualquer coisita serve para adoçar a boca dos miúdos. À força de quererem ser senhores muito importantes e sisudos, esqueceram-se já dos maravilhosos tempos em que foram crianças, ignorando o quanto importa preparar o futuro, mesmo que isso não se traduza imediatamente no encher as urnas de votos.
V - CONCLUSÃO
Temos plena consciência da abordagem demasiado superficial que fizemos às questões enunciadas e por certo outras haverá bem mais importantes. Algumas serão certamente afloradas em próximas oportunidades. Mas é tão vasto, tão complexo e tão rico o tema que dificilmente o esgotaremos. Fica, porém, a intenção de questionar, mesmo brevemente, alguns dos mais palpitantes problemas com que se debate o teatro para a infância, restando sobretudo a certeza de um debate que valerá sempre a pe­na.
Pela nossa parte coexistem neste momento duas estranhas sensações: a satisfação de ter levantado algumas questões, infelizmente tão arredadas das nossas tertúlias culturais, erguendo mais uma voz no coro das lamentações legítimas de quantos vivem o teatro por dentro; e, por outro lado, a mágoa de termos ficado ainda muito aquém dos propósitos de abordagem, tantos são os problemas que gostaríamos de aflorar.
A representação teatral é de facto a arte do efémero, um efémero sui generis que, no dizer de Derrida, " não deixa atrás de si, atrás da sua actualidade, nenhuma marca, nenhum objecto que se possa guardar. Não é nem um livro, nem uma obra, mas uma energia, e neste sentido é a única arte da vida ". [ DERRIDA, J.- L'Écriture et la Différence, Paris, Seuil, 1967, p.363 ].
Por tudo isto, fazer teatro para crianças é potenciar-lhes a Vida.



Fernando Peixoto

OVAR - ABRIL EM FLOR









É já no próximo dia 24 de Abril à noite (21H45)

que vai acontecer o espectáculo
Este ano a Contacto decidiu convidar 3 distintos amigos para comemorar esta data:
José Almada, cantor de "intervenção" dos anos 70,intérprete do célebre "Oh Pastor que Choras";
Raúl Leite, poeta, encenador,actor e declamador de Gaia
e a
Orquestra Ligeira da Banda Ovarense (OLBO)
que é dirigida pelo maestro Ascendino Silva.

A Oficina da Contacto também vai dar o seu contributo através da representação de uma pequena peça intitulada

"A Conferência de Imprensa"
adaptada por Raul Leite
e encenada por Manuel Ramos Costa

Vai ser uma noite em cheio na Casa da Contacto e aconselhamos que reserve já o seu lugar para evitar "surpresas", através do site http://www.contactovar.com/

e/ou

através de um dos seguintes números: 914663390 ou 917458619.

sábado, abril 12, 2008

Fazer a Festa - Festival Internacional de Teatro




27ª edição - 25 de Abril a 4 de Maio de 2008


Jardins do Palácio de Cristal-Auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett


Programa

Dia 25 Abril, sexta-feira
[ 15.30h ]
"D. INÊS DE CASTRO" ¬ S.A. MARIONETAS . Alcobaça ¬ M/4
[ 16.30h ] estreia "SOMBREIROS SEN CHAPEU" ¬ TANXARINA TÍTERES . Galiza, Espanha ¬ M/4
[ 21.30h ] "A CARTOMANTE" ¬ CIA PAULISTA DE REPERTÓRIO . S. Paulo, Brasil ¬ M/12
[ 21.45h ] "CONTRA CURVA" ¬ VARAZIM TEATRO . Póvoa de Varzim ¬ M/16
[ 23.30h ] "O CANTO DE INTERVENÇÃO" ¬ AJA - ASS. JOSÉ AFONSO . Porto ¬ M/ 12

Dia 26 Abril, sabádo
[ 15.30h ] "PERDIDO ENTRE CARTAS E SELOS" ¬ TOSTA MISTA . Portugal / Alemanha ¬ M/4
[ 16:30h ] "NARIZES II" ¬ BAAL 17 . Serpa ¬ M/6
[ 21.30h ] "MARIA CURIE" ¬ TEATRO EXTREMO . Almada ¬ M/12
[ 21.45h ] "CONTRA CURVA" ¬ VARAZIM TEATRO . Póvoa de Varzim ¬ M/16
[ 23.30h ] "O CANTO DO CISNE" ¬ O NARIZ - TEATRO DE GRUPO . Leiria ¬ M/12
Dia 27 Abril, domingo
[ 15.30h ] "Nº8" ¬ BALLET TEATRO . Porto ¬ M/4
[ 16.00h ] "AUTO DAS ESTRELAS" ¬ ESAP . Porto ¬ M/4
[ 16:30h ] "ESTRANHÕES E BIZARROCOS" ¬ TEATRO ANIMAÇÃO DE SETÚBAL . Setúbal ¬ M/4
[ 21.45h ] "CONTRA CURVA" ¬ VARAZIM TEATRO . Póvoa de Varzim ¬ M/16
Dia 28 Abril, segunda-feira
[ 10:00h e 14.30h ] (#) "A MALA DA ALICE" ¬ CPA / CCB . Lisboa ¬ 3-6
[ 21.45h ] "CONTRA CURVA" ¬ VARAZIM TEATRO . Póvoa de Varzim ¬ M/16

Dia 29 Abril, terça-feira
[10:00h e 14.30h ] ("OS MINPINS" ¬ CPA / CCB . Lisboa ¬ 6-10
[ 21.45h ]"CONTRA CURVA" ¬ VARAZIM TEATRO . Póvoa de Varzim ¬ M/16
Dia 30 Abril, quarta-feira
[10:00h e 14.30h ] (#) "A MALA DAS PEDRAS" ¬ CPA / CCB . Lisboa ¬ 3-10
[ 21.30h ] "AUTO DA BARCA DO INFERNO" ¬ CT BRAGA . Braga ¬ M/6
[ 21.45h ]"CONTRA CURVA" ¬ VARAZIM TEATRO . Póvoa de Varzim ¬ M/16
[ 23.30h ] "CAFÉ VALENTIN" ¬ COMPANHIA DO JOGO . Albergaria-a-Velha ¬ M/ 12
Dia 1 Maio, quinta-feira[ 15.30h ]
"COR DA PELE - UM ROSTO DIFERENTE" ¬ ENTRETANTO TEATRO . Valongo ¬ M/4
[ 16.30h ] "BOLBORETA" ¬ TÍTERES TROMPICALLO . Galiza, Espanha ¬ M/4
[ 21.30h ] "GIL VICENTE ? SAMICAS..." ¬ O TEATRÃO . Coimbra ¬ M/12
[ 23.30h ] "SEGUNDO SEGUNDO" ¬ MAU ARTISTA . Porto ¬ M/12
Dia 2 Maio, sexta-feira
[ 10:00h e 14.30h ] (#) "CONTO COM TODOS: O ELEFANTE ELMER" ¬ TEATRO ART’IMAGEM . Porto - 5-12[ 21.30h ]"À ESPERA DE GODOT" ¬ URZE TEATRO . Vila Real ¬ M/12
[ 23.30h ] "CONCERTO Nº1 EM TOM ZÉ" ¬ CENA . Porto ¬ M/ 12
Dia 3 Maio, sábado
[ 15.30h ] "MARIONETAS NO JARDIM" ¬ INSTITUTO SUPERIOR JEAN PIAGET . VN Gaia ¬ M/4
[ 16:30h ] "YNARI" ¬ TEATRO DAS BEIRAS . Covilhã ¬ M/6
[ 21:30h ] "AUTO DA BARCA DO INFERNO" ¬ DRAGÃO 7 . S. Paulo, Brasil ¬ M/6
[ 23.30h ] "CANTATA PARA O HONORÁVEL BANDIDO CHILENO JOAQUÍN MURIETA" - TEATRO ART’IMAGEM . Porto ¬ M/ 12
Dia 4 Maio, domingo
[ 15.30h ] "VOLTA AO MUNDO EM 10 INSTRUMENTOS" ¬ MARIMBONDO . Lousã ¬ M/4
[ 16:30h ] "VALDEMULLER" ¬ CENTRO DRAMÁTICO GALEGO . Galiza, Espanha ¬ M/ 6

(#) - marcação prévia programa sujeito a alterações

actividades paralelas

projecção videográfica ] "VINTE SETE ANOS A FAZER A FESTA" ¬ TEATRO ART’IMAGEM

contactos

Bilheteira (durante o Festival)tel. 00351 22 600 99 05
Teatro Art Imagem

Rua da Picaria, 89

4050-478 Porto

tel - 00351 22 208 40 14 tlm - 00351 96 020 88 19 fax - 00351 22 208 40 21e-mail - producao@teatroartimagem.pt

Texto do Director

Com alguma esperança, apresentamos a vigésima sétima edição do “Fazer a Festa”- Festival Internacional de Teatro que o Teatro Art´Imagem mais uma vez organiza nos jardins do Palácio da Cristal, na cidade do Porto.
Por razões de todos conhecidas, as últimas edições desta Festival, um dos três mais antigos do País, foram organizadas em condições muito difíceis, não deixando contudo de atrair aos jardins do Palácio de Cristal e ao Auditóro da Biblioteca Municipal Almeida Garrett milhares de pessoas, jovens na sua maioria e também muitas crianças, cumprindo a sua principal função: a sensibilização e conquista de novos públicos e a apresentação de um conjunto de espectáculos de consagradas companhias teatrais portuguesas e estrangeiras de grande qualidade.
A Aldeia Teatral e a diversidade de propostas e companhias que ocupavam de manhã à noite os jardins e espaços deste pulmão verde no centro da cidade e que, por força das circunstâncias, quase tinham desaparecido nos últimos anos, voltam, (ainda que timidamente), em 2008, nestes dez dias cheios de todo o teatro.
E isso só é possível este ano graças, também, à Câmara Municipal do Porto que voltou a apoiar a programação do Fazer a Festa, o que se regista e agradece.
Como será então o Fazer a Festa de 2008 ?
Aos dias da semana, de manhã e de tarde, a programação é dirigida, principalmente, aos grupos escolares, apresentando espectáculos o Centro de Pedagogia de Animaçãol do Centro Cultural de Belém e o Teatro Art´Imagem.
Aos sábados e domingos e nos feriados do Vinte Cinco de Abril e Primeiro de Maio haverá vários espectáculos à tarde nos jardins, tendas e Auditório da Biblioteca, dirigidos a todos os públicos protagonizados pelas companhias galegas, Tanxarina, Trompicallo e Centro Dramático Galego, pelo artista alemão radicado em Portugal, Thorsten Grütje, pelos alunos do Ballet Teatro, da ESAP e do Instituto Jean Piaget e pelas companhias portuguesas, BAAL 17, Teatro de Animação de Setúbal, Teatro das Beiras, S.A. Marionetas, Marimbomdo e pelo co-produção do Entretanto Teatro, de Portugal e os brasileiros do Teatro Casa.
Diariamente às 21h30 no palco da Biblioteca e às 23h30 na Tenda de Café-Teatro, decorrerão os outros espectáculos que serão apresentados pelas companhias brasileiras, Dragão 7 e Cia. Paulista de Repertório, ambas de S. Paulo, e as portuguesas Teatro Extremo, Companhia de Teatro de Braga, O Teatrão, Urze Teatro, O Nariz, Mau Artista, Companhia do Jogo, Teatro Art´ Imagem, o grupo musical Cena e uma sessão de canto de intervenção pelo Núcleo do Norte da Associação José Afonso.
Nas noites de 25 a 30,pelas 21h45, estará a actuar na Capela o Varazim Teatro.
Estará ainda patente ao publico uma exposição de cartazes denominada “O Fazer a Festa em Cartaz(es)” e será apresentada diariamente a projecção videográfica “Vinte e Sete Anos a Fazer a Festa”, ambas da autoria de Cristiana Correia, que visam reavivar as memórias das várias edições do Festival que teve a sua primeira edição em 1982.
Como se fosse um sinal, um bom sinal, registe-se que a programação deste ano é preenchida com nada menos que três espectáculos de Gil Vicente, o pai fundador do nosso teatro... um prenúncio anunciador do renascimento do Fazer a Festa ?
Anote-se, ainda, os outros autores que vão ser levados ao palco nesta edição, citando-se só alguns, Becket, Tchekov, Karl Valentin,Neruda, Machado de Assis, Agualusa, Ondjaki…
Com tão boa companhia parece então que temos razão para estar optimistas, embora moderamente.

Para as companhias, portuguesas e estrangeiras e seus profissionais ,que aceitaram Fazer a Festa connosco e que o fizeram em condições muitos especiais permitindo multiplicar um orçamento tão pequeno transformando-o num grande festival , o nosso primeiro muito obrigado.
Depois, às escolas artísticas da cidade, Ballet Teatro, ESAP e Instituto Jean Piaget e aos seus alunos um outro agradecimento.
Um obrigado também a todas as outras entidades (DGA/MC, D.Reg.Cultura do Norte, IGAEM/Xunta de Galícia/ Centro Dramático Galego,Instituto da Juventude e Inatel-Porto) que tornaram possível a continuação deste Festival.
A toda a equipa do Teatro Art´Imagem e seus colaboradores, pela persistência, trabalho e competência, um agradecimento sentido.
Para o público, razão primeira do Fazer a Festa e que nunca deixou de estar presente, o maior obrigado.
Para o ano há mais e melhor FAZER A FESTA !

José Leitão (Director do Teatro Art´Imagem)

segunda-feira, abril 07, 2008

Seminário de Jogos Malabares


A Direcção de Curso de Teatro da ESAP vem pelo presente meio informar a comunidade escolar sobre a realização de um Workshop/Seminário de Jogos Malabares.

Objectivos:

- Capacitar para o uso artístico de malabares, bolas, arcos, maças e outros objectos com propriedades dinâmicas;
- Classificação de técnicas, práticas e jogos;
- Técnicas aplicadas ao Teatro e as Artes Circenses;
- Utilização do espaço orientado a desenvolver o equilibrio, a percepção do ritmo e psicomotricidade;

Orientado por: José Maria Estraviz (Actor, Artista Plástico, Caracterizador e Artista de Circo)

Horário:
Terças e Quartas das 18h às 20h (Dias 15, 16, 22, 23, 29 e 30 de Abril de 2008)
Local: Sala Nova de Teatro

Inscrições: 30,00€ (Trinta Euros)
Para efectivar a inscrição, deverá preencher a respectiva ficha de inscrição e dirigir-se à Tesouraria da CESAP, Rua Infante D. Henrique, n.º 131.

História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar


Teatro Art’ Imagem

estreia a 18 Abril

História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar
de Luís Sepúlveda, com dramaturgia e encenação de Pedro Carvalho e Valdemar Santos.

Uma gaivota, vítima da poluição de uma maré negra, confia o seu pequeno ovo a um gato chamado Zorbas, pedindo-lhe para cumprir três promessas: não comer o ovo; cuidar dele até nascer a gaivotinha; e, por fim, ensiná-la a voar. Zorbas pede então ajuda a três amigos (Colonello, Sabetudo e Barlavento) para tentar levar a cabo a estranha missão de cuidar da gaivotinha. Depois de passarem por muitos perigos para cumprirem as duas primeiras promessas, eles têm que recorrer a alguém muito especial para os ajudar a cumprir a terceira (ensiná-la a voar !) mas, para isso, têm que quebrar o tabu dos gatos...

A “História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar”, que o Teatro Art’ Imagem leva agora a palco numa encenação em que contracenam marionetas e actores é, segundo o autor, um dos livros que mais trabalho lhe deu a escrever (dois anos) por ser uma história pensada também para as crianças, necessitando por isso de uma linguagem muito especial, directa e sem ambiguidades.

“Os meus livros não são uma forma de eu me explicar ao mundo, mas sim de partilhar com os leitores as minhas pequenas explicações do mundo com todas as suas contradições, bondade e maldade”
Sobre a encenação
Na plateia e como ante-câmara, uma instalação audiovisual remete-nos para o universo fantástico do mundo animal. Segue-se o prólogo trágico da peça numa curta metragem vídeo que invade o palco e faz fusão com uma coreografia de actores, vultos e sombras. Depois vem a história contada por marionetas construídas em polioretano flexível e que permitem uma manipulação directa numa estreita relação de cumplicidade com os actores que lhe dão vida.
A história desenrola-se numa cenografia móvel e em micro escala, onde as atmosferas sonoras e as nuances de luz e de sombras dão a plasticidade, o relevo e o “zoom” ao espectáculo.
Esta fábula ecológica e social escrita por Luís Sepúlveda representa também o regresso do Teatro Art' Imagem ao teatro de objectos, actores e formas animadas.

A história do gato e da gaivota é um espectáculo para todos os públicos e também para aqueles “que à beira do abismo perceberam que só voa quem se atreve a fazê-lo”.
Este magnífico texto do autor chileno Luís Sepúlveda será a 90ª criação do Teatro Art’ Imagem, companhia que mantém a aposta de escolher, de entre os três espectáculos que anualmente apresenta, a adaptação de grandes obras ou autores universais para os jovens públicos.

Refira-se, aliás, que os dois últimos espectáculos estreados pela companhia (“Fulgor e Morte de Joaquín Murieta” e “Cantata para o honorável bandido chileno Joaquín Murieta”) foram também de um autor chileno, o consagrado Nobel da Literatura Pablo Neruda.
Sobre o Autor
Luís Sepúlveda nasceu em Ovalle, no Chile, em 1949. Depois de viver entre Hamburgo e Paris, reside actualmente em Gijón, nas Astúrias, tendo sido um dos fundadores do “Salão do Livro Ibero-Americano”.
Membro activo da Unidade Popular chilena nos anos setenta, teve de abandonar o país após o golpe militar de Pinochet.
Viajou e trabalhou no Brasil, Uruguai, Paraguai e Perú. Viveu no Equador entre os índios Shuar, participando numa missão de estudo da UNESCO. Foi amigo de Chico Mendes, assassinado na defesa acérrima da Amazónia, ao qual dedicou o livro O Velho que Lia Romances de Amor (1989), o seu maior sucesso.
“ Perspicaz narrador de viagens e aventureiro nos confins do mundo, Luís Sepúlveda concilia com sucesso o gosto pela descrição de lugares sugestivos e paisagens irreais com o desejo de contar histórias sobre o homem, através da sua experiência, dos seus sonhos, das suas esperanças “.
Quase todos os seus livros estão traduzidos em português, nomeadamente, O Mundo do Fim do Mundo (1989), Encontro de Amor num País em Guerra (1997), Nome de Toureiro (1994), História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a Voar (1996), Patagónia Express (1996), Diário de um Killer Sentimental (1999), As Rosas de Atacama (2000), O General e o Juíz (2003), Uma História Suja (2004), O Poder dos Sonhos (2006) e Crónicas do Sul (2008)
Presença frequente em Portugal, Luís Sepúlveda é um dos escritores sul-americanos mais lido no nosso país.
Ficha artística
de Luís Sepúlveda - tradução Pedro Tamen - dramaturgia e encenação de Pedro Carvalho e Valdemar Santos
interpretação e manipulação - Anabela Nóbrega, Flávio Hamilton, Pedro Carvalho, Valdemar Santos
concepção plástica Sandra Neves - sonoplastia Carlos Adolfo - vídeo Paulo Martins - execução plástica Sandra Neves, Joana Caetano, Manuela Carneiro - execução cenográfica José Lopes - operação técnica Ricardo Santos

Este espectáculo estreia a 18 de abril, sexta-feira, às 21:30 no auditório da Quinta da Caverneira, em Águas Santas, Maia. tendo mais duas representações: dia 19, sábado, às 21:30 e dia 20, domingo às 16:00.
O preço do bilhete é de 5 € ou 3 € (m/ 25 e M/65). Inf: 22 208 40 14 ou 96 020 88 19
Ensaio de imprensa
Desde já o convidamos a assistir ao ensaio de imprensa no dia 15 de Abril (terça), às 15:00 no auditório da Quinta da Caverneira, na Avenida do Pastor Joaquim Eduardo Machado, Águas Santas, Maia).
Localização: perto da Escola Secundária de Águas Santas. sentido Alto da Maia-Areosa, Rua D. Afonso Henriques, virar à direita para Rua João XXIII (Banco BPI na esquina) e depois virar na 1ª à direita (rua de sentido único que termina em frente ao portão principal da Quinta).