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quarta-feira, agosto 15, 2007

A LOUCURA DO POETA


Homenagem do "Cochilando nas Estrelas", aos versos do Poeta que sabe, com muita propriedade, a dor da Pátria a sangrar e a do irmão a sofrer.

Que a voz do Poeta não se cale
Que os olhos do Poeta não se fechem
Que os seus versos sejam a sirene
Que alerta toda a gente à sua volta
Que o poema seja o grito inconformado
Dos braços que se erguem na revolta
Contra os braços curvados e a cerviz
Submissa ao peso da opressão
Que o poema seja sempre vertical
Um relâmpago enorme em noite escura.
Que o Poema seja uma canção
E rasgue o medo em mil pedaços
Com versos de amor e de ternura
Espalhados por mil bocas e mil braços.
Que o Poeta seja mais que um ser humano
E que tanja a lira do seu canto
Elevando a Poesia até ao céu
E que entregue aos homens o seu Fogo
Assumindo o papel de Prometeu.

Quando o Poeta escreve por Amor
A palavra torna-se a armadura
Com que o Homem vence a própria dor
E destrói o vírus da amargura.

É louco, o Poeta? Deixem lá:
O mundo precisa da loucura.


Fernando Peixoto
Portugal
06.08.2007
(imagem colhida do site
Formatação de Emília Possídio
Sensibilizado, agradeço esta atenção da Amiga e poetisa Emília Possídio
Fernando Peixoto

terça-feira, agosto 14, 2007

O Limite da Mediocridade Alcançada


Por Julio Carrara - 19/12/2006

Eu gostaria de saber o que acontece com determinados “atores”. O que querem afinal? Ser ator ou ser famoso? Ser ator é uma coisa e ser famoso é outra, completamente diferente.
É fácil ficar famoso. Olhem os mandamentos abaixo1. Tenha um corpo sarado e um rostinho angelical.2. Seja fútil.3. Não precisa saber falar corretamente o português.4. Ande por aí sem calcinha.5. Tenha muita grana.6. Se inscreva no “Big Brother“.7. Se conseguir entrar naquela merda, pode ter certeza que ao sair de lá, você imediatamente pousará no Paparazzo, Playboy ou G Magazine, em fotos sensuais.8. Posteriormente entrará num programa humorístico de péssima qualidade ou ganhará um papel de coadjuvante numa novela do horário nobre, mesmo sem ser capacitado para isso.9. Pra que ser capacitado, se você pode ser namorada(o) de algum diretor conceituado? Pode ter certeza que ele irá te escalar pra sua próxima novela.10. Se não conseguir nada disso, faça um filme pornô. Muitos artistas começaram assim.
Siga corretamente essas dicas que, mais cedo ou mais tarde, você será uma celebridade. Eu lhe garanto.Mas tome cuidado. Depois de um tempo, essas celebridades instantâneas entram em órbita, caem no esquecimento e nunca mais ouve-se falar nelas.
Agora, entrarei num assunto que realmente me interessa. Ser ator. Não existe dez mandamentos para ser um bom ator. Existe muito mais. É uma profissão extremamente complexa.
Antes de se desenvolver como ator, você tem que se desenvolver como ser humano. Como você vai interpretar, Hamlet ou Ofélia, se a sua alma é muito inferior à desses personagens? Se o seu ego é maior que a sua humildade e generosidade? Se você procura contato com a platéia apenas por egocentrismo e vaidade? Se ama VOCÊ no TEATRO e não o TEATRO em VOCÊ?
Tenho certeza que muitos artistas não sabem o que estão fazendo quando estão em cena, qual a sua função social, o que pretendem atingir. Esses infelizes saem de uma escolinha de teatro qualquer, onde atuaram em grandes clássicos da dramaturgia universal como “As Bruxas de Salém“, por exemplo. Fazem uma ou duas apresentações para os familiares e amigos, que acham tudo maravilhoso e após o término do curso, enchem a boca para dizer que são atores profissionais, só porque tem a porra do DRT nas mãos. Grande bosta. Já trabalhei com muitos amadores que eram muito mais profissionais do que com àqueles que tem a carteira assinada e sua profissão regulamentada.
Hoje, a nossa profissão virou piada. Qualquer um pode ter DRT. É só pagar. E aquele ator talentoso, que não tem como pagar a taxa pra SATED, tem que dar um trampo de garçom, pintar a cara de branco, colocar uma bola vermelha no nariz e subir no palco como se estivesse animando festinhas de crianças nos Projetos Escolas da vida, tratando o público infantil como debilóides (coisa que não são), para conseguir grana pra pagar suas contas e a taxa abusiva do Sindicato pra conseguir o tão desejado DRT.
O grau de analfabetismo é tanto, que certa vez, nos bastidores de um teatro onde seria apresentada “Lisístrata“, uma atriz, chegou no camarim, “desesperada” e disse para outras atrizes que o Aristófanes estava na platéia. Todas sacaram a brincadeira, exceto uma, que acreditou realmente.- Nossa - disse ela - ele veio da Grécia pra cá?
E todas riram da garota, evidentemente. Bem, nem tudo estava perdido. Pelo menos ela sabia que Aristófanes era grego.
Falta informação, faltam profissionais realmente capacitados, faltam bons orientadores. A classe artística é muito desunida e individualista. Por isso a Cultura está essa merda. É preciso urgentemente fazer alguma coisa. Senão, o que será do Teatro daqui há 10 anos?Têm pessoas que vomitam teorias mas agem pouco. São puros punheteiros recém-saídos de alguma escolinha, que em seus devaneios em bares ou botecos decadentes, sonham com um modelo do teatro ideal. Mas a única coisa que conseguem atingir é o limite da mediocridade alcançada. Só.
Por isso (há exceções, evidentemente), o teatro está tão frouxo. Ou temos espetáculos comerciais ou espetáculos que não passam de masturbação mental que não dizem absolutamente nada.
Para finalizar, transcrevo aqui uma frase do grande Goethe: “Eu queria que o palco fosse uma corda bamba onde nenhum incompetente ousasse caminhar.”


Julio Carrara é diretor e dramaturgo. É colunista do Oficina de Teatro e escreve periodicamente para o site.

Amador ou Profissional? Eis a questão!


Por Paulo Sacaldassy - 05/08/2007

Na maioria das vezes, as pessoas são apresentadas ao teatro ainda na escola. Muitos nem se dão contam que um dia podem se tornar atores ou atrizes de sucesso. A aula, regada a uma peça de teatro, acaba sendo uma grande “brincadeira”, mesmo que o exercício seja levado a sério, pois alguns mais tímidos e outros nem tanto, usam a apresentação para se provocarem durante o ano.
Passada essa fase escolar, onde se é apresentado ao teatro sem compromisso algum, sempre tem alguém no grupo que leva aquela “brincadeira” um pouco mais a sério, e resolve procurar um grupo de teatro de verdade, pois sua alma foi tocada pelo bichinho do teatro.
São muitos os grupos que de uma maneira amadora conseguem fazer teatro de uma forma competente, mesmo com todas as dificuldades inerentes ao teatro, como a falta de espaço para ensaios, a falta de verba e as dificuldades de espaços para apresentação. Muitos são de muito bom nível, e são deles, que saem quase sempre, os atores e atrizes que chegarão a televisão.
Quando se está em um grupo amador, onde se faz teatro por amor e não se ganha nada por isso, tem-se a chance de aprender de verdade e na prática, as dificuldades de se fazer teatro em nosso país. Muitos optam por essa vida de teatro amador por toda a sua existência, mas outros, querem fazer desta arte o seu meio de subsistência, e é aí que depara-se com um grande dilema. Fazer teatro de uma forma amadora apenas para alimentar a alma artística ou partir de vez para uma carreira profissional e enfrentar todas as suas dificuldades?
Muitos jovens que atuam em grupos amadores, e vêem outros jovens fazendo sucesso na televisão, querem também fazer parte deste mundo, o quanto antes, melhor, e isso não é de hoje, pois, quem gosta de teatro de verdade, vive ou viveu um dia esse dilema. Mas quase sempre, o peso das responsabilidades, acaba interrompendo carreiras brilhantes, e muitas vezes, o teatro deixa de conhecer talentos que, ou não tiveram, a coragem suficiente para enfrentar as dificuldades, ou optaram por não correr riscos, e continuar apenas o seu teatro de forma amadora.
Acho que não se pode condenar, nem um, nem outro, cada qual deve escolher para a sua vida o que realmente quer no momento em que vive, as vezes, não á a hora de embarcar em uma aventura, e se jogar no mundo do teatro de uma forma desesperada, pois corre-se o risco de vender a alma ao diabo, e se perder na essência de sua alma de artista. As vezes é melhor trabalhar com o teatro amadorísticamente, mas consciente de estar preparado, para na oportunidade certa, encarar o desafio de viver profissionalmente do teatro.
A escolha é difícil, ainda mais quando se é jovem, por isso, não há a necessidade de precipitação, pois a história mostra que o teatro está cheio de atores e atrizes que tinham uma outra profissão, e no momento certo, deixaram o amadorismo para serem profissionais do teatro. E na maioria das vezes, com muito sucesso.


Paulo Sacaldassy, contabilista, dramaturgo, roteirista, poeta e letrista. Mantenho um blog chamado "poucas palavras" onde posto minhas poesias e alguns artigos. E agora, Colunista do site Oficina de Teatro.



A DISCRIMINAÇÃO DO ARTISTA

Por Paulo Sacaldassy - 12/08/2007

Engraçado, enquanto a gente segue nossa sina de forma anônima no meio da multidão, levando nossa arte, as pessoas que nos cercam, quase nunca acreditam em nosso talento, e as pessoas que não nos conhecem quase sempre nos discriminam. Pergunto à vocês: Quantos já não foram chamados de loucos, vagabundos, e outras coisas do tipo, só por ser um simples artista perdido no anonimato?
Cheguei a conclusão que as pessoas só reconhecem como artistas, os atores e atrizes que aparecem na novela das oito, ou o cantor, cantora ou banda, que tem sua música tocada exaustivamente nas rádios, fora isso, mais ninguém é considerado artista, tamanha a discriminação.
Não sei se alguma vez vocês sentiram ou presenciaram alguma manifestação de discriminação contra algum artista desconhecido pela grande maioria, talvez sim, isso é muito comum em barzinhos, onde músicos, sempre desconhecidos, tocam a noite toda como se fizessem mero acompanhamento para um bate-papo informal.
E as peças com atores desconhecidos? A dificuldade de colocar público no teatro se torna quase uma missão impossível. Na maioria das apresentações, o público é formado, na sua maioria, por nossos amigos e familiares, que ao final, nos falam duas ou três palavras de incentivo, mas quase sempre nos aconselham a voltar a vida normal.
Não consigo entender porque o artista que se tornou conhecido do grande público, tem mais valor do que o artista que faz o seu trabalho ainda no anonimato. Talvez a psicologia possa dizer alguma coisa. Quem sabe não é algo sobre o exemplo a seguir. - Fulano está na mídia, eu quero ser igual à ele! É até compreensivo, mas o que não é, é o desrespeito e o preconceito contra os anônimos.
Se a pessoa está ali, se apresentando como artista e você ali, como espectador, subentende que de alguma maneira, você veio prestigiar aquele artista desconhecido, certo? Então eu lhe pergunto: Por que desvalorizar esse trabalho? Neste fim de semana mesmo, presenciei um caso desse. Na escola onde estudam minhas filhas, houve uma apresentação de um grupo de música desconhecido do grande público, que diga-se de passagem, de muito talento, e que foram contratados para a festa do dia dos pais, mas o que ocorreu? Alguns pais, motivo final daquela apresentação, simplesmente discriminaram os músicos, que ali no palco, se empenhavam para passar algo agradável, permitindo que seus filhos, gritassem, corressem, pulassem, de uma tal forma, que me coloquei no lugar daqueles músicos, e me senti muito constrangido. Não tive dúvidas sobre o que escreveria!
O que o artista quer, é simplesmente o reconhecimento de sua arte. Que ele seja respeitado, mesmo que seja um anônimo, porque aliás, naquele instante em que ele se apresenta à você, está deixando de ser anônimo, e se você prestar atenção somente no talento, não desrespeitá-lo, nem discriminá-lo, quando se der conta, vai encontrá-lo trabalhando na novela das oito, ou cantando a sua canção preferida, e aí então, o que você vai mais querer, é que ele lhe dê, um concorrido autógrafo.
O artista é bom quando ele é bom no que faz, não precisa estar na mídia, por isso, quando você for assistir à alguma apresentação de um artista desconhecido, assista-o como se fosse seu fâ número um, pois ele está ali, fazendo aquilo para você.


Paulo Sacaldassy, contabilista, dramaturgo, roteirista, poeta e letrista. Mantenho um blog chamado "poucas palavras" onde posto minhas poesias e alguns artigos. E agora, Colunista do site Oficina de Teatro.