Eis um espaço de partilha para gente que se interessa por teatro e outras artes. Podemos e devemos partilhar: fotos, reflexões, críticas, notícias diversas, ou actividades. Inclui endereços para downloads. O Importante é que cada um venha até aqui dar o seu contributo. Colabore enviando o seu texto ou imagem para todomundoeumpalco@gmail.com

quarta-feira, março 29, 2006

O TEATRO NO BRASIL SETECENTISTA



TEATRO DE MANUEL LUÍS (à esq.)
TEATRO DE OURO PRETO OU CASA DA ÓPERA (à dir.)
O teatro de que o Brasil desfruta no século XVIII é ainda muito influenciado pela Igreja, está confinado aos centros populacionais mais importantes e vive essencialmente da «importação» de espectáculos provindos de Lisboa.
Começando por Salvador, na Bahia, onde estava sediado o vice-rei, vai-se deslocando sucessivamente para o Rio de Janeiro, cidade que começa a conhecer um maior desenvolvimento económico e político. E, à medida que algumas cidades do interior iam adquirindo o protagonismo que a mineração lhe conferia, casos de Minas Gerias ou Mato Grosso, assim se deslocavam, também, alguns espectáculos para gáudio dos exploradores.
Será sobretudo na segunda metade do século que a representação de espectáculos teatrais irá conhecer um novo impulso. Igrejas, palácios de personalidades ligadas à governação ou mesmo a praça pública, são aproveitados como locais para representações. Só mais tarde, depois de reconhecida a importância educativa que o teatro podia assumir, é que se começam a edificar locais destinados especialmente às representações: são as denominadas Casas da Ópera. Por aí começaram a surgir não apenas representações operáticas mas igualmente a apresentarem-se comédias, parte delas representada em castelhano, ou então vindas de Lisboa, já traduzidas - nem sempre com o necessário rigor - e que aqui chegavam também sob a forma de folhetos de cordel: a «moda» acabava por ser importada de Lisboa!
A compreensão do papel formativo do teatro impeliu os poderes públicos a favorecerem a edificação de espaços teatrais (admite-se que o primeiro tenha aparecido em 1760, na Bahia, o qual ficou conhecido como o «teatro da praia», composto por 28 camarotes e com um palanque para a acomodação das mulheres) e a criação de companhias locais, que contratavam actores brasileiros pertencentes às classes menos favorecidas, sobretudo mulatos, negros, escravos, a maior parte, naturalmente, sem qualquer preparação anterior e muitas vezes desprovidos de quaisquer direitos de cidadania.
Claro que os elencos eram constituídos exclusivamente por homens, já que a actuação de mulheres estava interdita, o que implicava a utilização sistemática de travestis, criando situações de representação verdadeiramente grotescas, por mais que os homens se esforçassem numa boa imitação. De resto, havia mesmo actores especializados na representação de papéis femininos.
Há que ressalvar, entretanto, que sendo esta a norma, terá havido casos em que os elencos integraram mulheres. Décio de Almeida Prado, no Teatro de Anchieta a Alencar, dá-nos conta da presença de freiras e outras personagens femininas representando em «manifestações teatrais ou parateatrais, de natureza privada e repercussão restrita, com margem para improvisações pessoais e libertinas», o que mostra bem que nem sempre os espaços sagrados estavam exclusivamente reservados para as manifestações piedosas!
Convém não ignorar que a actividade teatral era ainda por muitos considerada uma arte imprópria para «gente de bem» e completamente proibida ao sexo feminino, que chegava mesmo ao cúmulo de não permitir mulheres entre os espectadores, principalmente em espectáculos cujo conteúdo pudesse, de alguma maneira, ser considerado mais licencioso. Depois, eram estas companhias que levavam os seus espectáculos aos vários edifícios entretanto construídos, representando sobretudo em momentos festivos e promovendo uma itinerância que acabaria por tornar mais alargado o gosto pelo teatro.
Quando alguns actores portugueses se deslocavam ao Brasil, o que não seria demasiado frequente mas que mesmo assim ia acontecendo de forma esporádica, o seu teatro arrastava verdadeiras multidões de curiosos. Sabe-se, por exemplo, da sua presença em Vila Rica.
O grande impulso para a existência de um teatro local terá sido, mais uma vez, dado por gente ligada ao clero, como o padre Ventura, que dirigia a Casa da Ópera, criada em 1767, e aí encena obras de António José da Silva, um brasileiro que viveu a maior parte da sua curta vida em Portugal. Mas a actividade da Casa da Ópera acabaria com um incêndio que destruiu o edifício em 1769, precisamente quando ali se representava Os Encantos de Medeia, de António José da Silva.
Em 1776 surgiu o espaço do Teatro de Manuel Luís, um empresário que contratava companhias portuguesas. Mas a sala acaba por ser encerrada e D. João VI ordena a construção do Real Teatro de S. João, inaugurado em 1813 e destinado essencialmente à representação de companhias vindas de Portugal, tanto mais que a corte se encontrava já no Brasil.
Outros espaços foram aparecendo, pelos finais do século, como a Casa da Comédia, em S. Paulo ou em Vila Rica, montando- se espectáculos com peças de autores portugueses, italianos, espanhóis, franceses, muitas das vezes chegando ao Brasil adulteradas por sucessivas adaptações, quando não mesmo sem identificação da autoria.
O repertório não sendo muito variado, privilegiava claramente a farsa e a comédia do chamado teatro de «capa e espada» do siglo de oro, com preponderância para Zorrilha e Calderón. El Conde de Lucanor e Afectos de odio y amor, duas comédias de Calderón de la Barca, foram apresentadas em 1717.
As companhias locais não podiam deixar de reflectir as claras insuficiências da sua preparação, apesar do investimento que por vezes era feito numa certa sumptuosidade e fantasia cenográfica, que não se coibia de espelhar os exageros ao sabor da imaginação dos seus criadores, o mesmo acontecendo com o figurino, que procurando imitar o das personagens reais, era muitas vezes empolado por ornamentos claramente anacrónicos. Também não se podia exigir grande rigor de interpretação, sobretudo levando em conta que a maior parte dos intérpretes era analfabetos. A sua «escola teatral» era a da vida e a da observação, pelo que as personagens representadas eram frequentemente imitações de outras que tinham sido vistas nas representações de companhias profissionais.
Além dos autores já referidos, Metastásio, Voltaire, «o Judeu», Maffei, Goldoni e Molière foram alguns dos autores que integraram o repertório da época, nos diversos palcos do Brasil setecentista.
Mas nem só de autores estrangeiros viveu o teatro brasileiro de então. A sua difusão proporcionou o aparecimento de nomes que não podem - nem devem - ser olvidados, destacando-se entre eles o poeta e compositor, natural do Recife, Luís Alves Pinto (1719-1789). Tendo estudado música em Portugal, Alves Pinto dedicou-se à pedagogia ao mesmo tempo que compunha a sua música e os seus poemas, tendo visto ainda representada, em 1780, aquela que foi considerada a primeira comédia escrita por um autor brasileiro, intitulada O Amor mal correspondido.
Outro dos autores que contribuiu para o espólio teatral brasileiro foi o poeta Cláudio Manuel da Costa (1729-1789), autor do drama em verso Parnaso obsequioso.
Filho de portugueses que estavam ligados à exploração mineira, fez estudos em Ouro Preto, de onde seguiu para o Colégio de Jesuítas do Rio de Janeiro, completando em Portugal os seus estudos de Direito, vindo a exercer advocacia e diversos cargos públicos.
Da sua passagem por Portugal trouxe várias influências: integra a Arcádia existente em Vila Rica (Ouro Preto), convive com outros intelectuais como Tomás António Gonzaga ou Alvarenga Peixoto, cultiva uma poesia vincadamente barroca, de temática rústica ou pastoril vertida em fábulas, cantatas e em sonetos de notável perfeição. A sua estada em Coimbra, aliada ao conhecimento da dura vida das minas, terá contribuído para desenvolver uma certa tendência de rebeldia. Implicado como conspirador na Inconfidência Mineira, é preso e acaba morrendo na cadeia, segundo alguns historiadores vítima de suicídio.
Curiosamente - ou não - o teatro brasileiro deste século deve os seus nomes maiores a homens de ideais progressistas e revolucionários. Já falámos de António José; do poeta português Tomás António Gonzaga que, sem escrever teatro, produziu a sua melhor poesia em terras brasileiras; de Cláudio Manuel da Costa, vítima da Revolta do «Tiradentes».
O seu grande amigo, Inácio José de Alvarenga (1744 ?-1792 ?), que mais tarde acrescentou ao seu nome o apelido literário de Peixoto, teve um percurso bastante semelhante. Como Cláudio Manuel da Costa, também Alvarenga Peixoto estudou Direito em Coimbra, regressando ao Brasil em 1775. Dedica-se também à poesia, integra o movimento arcádico e acaba, também ele, por ser preso e condenado à morte como conspirador da Inconfidência. Contudo, a pena é comutada em degredo, que virá a cumprir em Angola, falecendo no presídio de Ambaca em 1792.
Embora a sua obra não tenha atingido a notoriedade nem o volume de Gonzaga ou de Cláudio Costa, o certo é que lhe é atribuído o drama lírico Eneias no Lácio, obra que infelizmente se terá perdido.
De todos os autores teatrais setecentistas, o maior foi, sem dúvida, «o Judeu». E se Portugal dele se orgulha, o Brasil tem motivos redobrados para amar intensamente este filho que nas suas terras nasceu para engrandecer a dramaturgia de língua portuguesa.
FERNANDO PEIXOTO - Teatro. In Enciclopédia Didacta. Lisboa: F.G.P. Editores, 2005.

segunda-feira, março 27, 2006

27 de MARÇO - ESAP no CONTAGIARTE

ESAP elogia acto teatral no Contagiarte.
Na comemoração do Dia Mundial do Teatro, os alunos de teatro da ESAP - Escola Superior Artística do Porto organizam uma exposição retrospectiva de trabalhos realizados nos vários anos do curso, em diferentes disciplinas. Hoje, às 23h00, a abertura da exposição é feita com uma performance pelos alunos, no Espaço Contagiarte, das 23h00 às 2h00, até dia 31 de Março. Conscientes da efemeridade do teatro, da incandescência momentânea do acto teatral no palco, os alunos do Curso Superior de Teatro foram guardando objectos de memória dos seus últimos espectáculos durante estes quatro anos de formação: maquetas, fotografias, desenhos de figurinos e cenários, programas e cartazes. Trabalhos agora expostos no espaço multifacetado do Contagiarte. A heterogeneidade dos elementos expostos compõe um percurso dos alunos, nomeadamente os finalistas, nos diversos trabalhos, tais como: interpretações, performances, workshops, vídeo-dança, happenings, cenografias e produções.
in O PRIMEIRO DE JANEIRO de 27 de Março 2006

domingo, março 26, 2006

BUENAS NOCHES SRª. DIDASCALIA



Buenas noches
Señora Didascalia,
dama antigua
casi clásica
callada en los versos tebanos
sonora en Troya
tu pie descalzo
métrico sin métrica
vagó por el teatro vicentino
en una barca o nao
sin destino

los modernos te adoran
rescatáronte del silencio
pues nadie puede hacer silencio, pausa o ruido
sin didascalia

la noche es una luna buena
entre parentesis
parece Lorca

o la máscara es necesaria
parece Brecht

a ti hoy te han dado
nuevos oficios...
pero también hoy es dia de dormir

"buenas noches gentil principe...
que el resto es silencio"


ROBERTO MERINO MERCADO
(ao Fernando Peixoto no dia Mundial do Teatro e da Poesia -21/27 de Março 2006)

sexta-feira, março 24, 2006

ENCONTRO INTERNACIONAL DE ALUNOS DE ESCOLAS DE TEATRO


Este encontro destina-se a todos os estudantes do Ensino Superior e Escolas Profissionais que queiram reflectir sobre o Teatro, a Formação e as saídas profissionais para os estudantes de Teatro.

Pretendemos criar um espaço de discussão e exposição de ideias assim como confrontar algumas experiências de ensino nas diferentes áreas de formação e o confronto de diferentes percursos e diversas linguagens artísticas.

Ao mesmo tempo esperamos que os participantes possam assistir na cidade do Porto e nos últimos dias do Fitei a diferentes espectáculos de diferentes países da cultura ibero-americana para o conhecimento do teatro dos novos países de expressão portuguesa e de novas dramaturgias.

O espaço cultural da ESAP é um espaço inserido na zona histórica, Património da Humanidade classificado pela UNESCO.

Os participantes poderão assistir em aulas abertas e aulas de experimentação confrontando-se sempre com novos meios e novas experiências trazidas pelos participantes de outras escolas.

Será também uma forma de dar a conhecer a nossa cidade e os seus espaços culturais, as bibliotecas, os museus, os teatros e as escolas.

Evento que se pretende conservar e realizar outras edições com mais destaque e sobretudo mais difusão, assistiremos ao lançamento de livros e a uma pequena feira do livro de teatro com livros usados e novos para trocas e compra.

A ESAP dispõe de cantina onde serão servidas as refeições.
A biblioteca da ESAP estará aberta para consulta e visitas durante o Encontro.
Este Encontro está aberto a todos os interessados na problemática do Ensino e do Teatro.
O valor da inscrição para o encontro é de 3.00 euros.

PROGRAMA

Organização Escola Superior Artística do Porto/ESAP
Curso Superior de Teatro com o apoio do FITEI/Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica

7 de Junho - Quarta-Feira

- 10.30 horas recepção ao Participantes entrega de Documentação
Almoço
- 15 .00 horas abertura da Exposição na Galeria da ESAP dos trabalhos dos alunos do CS Teatro
Apresentação da MUI CRUEL HISTORIA DE PIRAMO E TISBE, pelos alunos do 2º Ano do CS de Teatro
-17.00 horas Aula aberta de Historia do Teatro - Mestre Fernando Peixoto
Jantar
21.30 horas espectáculo FITEI

8 de Junho - Quinta-Feira

- 10.00 horas Aula de Interpretação - Dra. Lígia Roque
Almoço
- 15.00 horas Aula de Voz - Dra. Patrícia Franco
- 17.30 horas Projecção filme de Teatro comentado pelo encenador Roberto Merino
Jantar
- 21.30 horas espectáculo Fitei

9 de Junho - Sexta-Feira

- 10.00 horas Aula de Movimento - Coreógrafa Isabel Barros
Almoço
- 15.00 horas Aula aberta de Estética Teatral - Dra. Eduarda Neves
- 17.30 horas Sessão de Encerramento e Entrega de Diplomas
Jantar
21.30 horas Espectáculo Fitei

Nota esta programação poderá sofrer algumas alterações

Para efectivar a inscrição, cujo valor é de 3.00 €, deve preencher ficha de inscrição e dirigir-se à Tesouraria da Cesap - Rua Infante D. Henrique, n.º 131, 4051-801 - Porto, telef. 22.3392140 , fax. 22.3392101. Para mais informações consultar www.esap.pt ou secretaria@esap.pt .

quarta-feira, março 22, 2006

DIA DO TEATRO DE AMADORES


MENSAGEM

Os dias que correm são cada vez mais casmurros, porque estão vazios de sentimentos, de afectos e de valores, de tal modo que, pela raridade, já olhamos como heróis os que se dedicam às causas comuns. Agigantam-se a intriga e a obsessão humanas na desenfreada busca do bem-estar físico e material que, desfeita a redundância, materializa falsos paraísos de posse e de domínio. Cresce o individualismo e o consumismo. Dedicam-se dias a todos os devaneios possíveis e imaginários com o intuito do sucesso (precário). Impera o jogo da sedução nos pregões que anunciam as mais fantásticas qualidades atribuídas aos produtos e apetrechos de quotidiana banalidade e dispensáveis à felicidade, pois nada acrescentam à interioridade humana.

Apesar desta anestesiante realidade continuam a existir os lúcidos amantes. Aqueles que se dedicam de peito aberto a dar respostas aos apelos da consciência e da sociedade. Aqueles que, como escrevia Florbela Espanca, querem “…amar perdidamente! Amar só por amar! Aqui…além… Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente…”, e todas as coisas. Que querem embarcar para o “Areeiro”, ou outros destinos – desde que seja para o sonho. Todos os caminhos do mundo estão à sua disposição.
Entre esses amantes, estamos nós, os amadores de teatro.

Nos tempos de intenso labor cultural, pós 25 de Abril, os amadores, com forte presença e implementação no país, representados pela sua associação de então – a APTA, escolheram para si um dia – o 21 de Março. Uma data sem devaneios, própria para celebrar a extensa obra realizada, umas vezes, de forma mais congregada, outras, mais dispersa, porém sempre participada e valiosa. Uma data que acima de tudo prepara a renovação e anuncia a Primavera – o desabrochar de novas ideias, e o surgimento de novos projectos e de redobradas ambições artísticas.

Hoje, as razões para comemorar o 21 de Março como Dia do Teatro de Amadores, são mais fortes. O mundo mudou. Neste início de século, a concorrência é imensa e agressiva. Proliferam as ofertas sedutoras à medida de todos os gostos e de todos os bolsos.
Apesar de tudo, o movimento do teatro de amadores persiste. Continua com o mesmo vigor e encanto de sempre, compreendendo e adaptando-se às exigências dos tempos que correm.
Os objectivos permanecem iguais: usar da melhor forma os sentimentos e a vontade de reencontrar os outros. Aceitar os desafios com os olhos postos na comunidade que nos rodeia – é para ela o nosso principal esforço. Encontrar prazer no que se faz.
Se os objectivos são os mesmos, também o método não se alterou: continua a deduzir-se como força motora o querer e o crer. Confirma-se a necessidade de vencer os egoísmos e de saber enfrentar as dificuldades. A nossa força esconde-se por detrás da força do grupo e do seu trabalho colectivo, em que o prémio de um, será o prémio de todos. Nunca buscar a fama, nem compensações de qualquer tipo, a não ser aquelas que são parte da alma.
É isso que temos feito.
Não nos faltam argumentos e alegria para promover a festa.
Celebremos, então, em 21 de Março, tudo quanto somos como amadores, e o que queremos continuar a ser, certos de que o mundo reflectirá, em algum momento, os sinais positivos do nosso esforço, do nosso compromisso e do nosso encantamento.

Porfírio Lopes

terça-feira, março 21, 2006

DIA DO TEATRO ASSOCIATIVO


MENSAGEM

Encontrar numa folha em branco as letras certas que se transformem em palavras capazes de definirem a importância do chamado teatro de amadores em Portugal, não é fácil.
Para que essas palavras se transformem em frases capazes de definirem tudo o que nos vai na alma, ainda é mais difícil. Não por incapacidade da nossa língua, mas porque estamos a procurar falar de emoções individuais que se transformam em manifestações colectivas de prazer e felicidade.
Falar dum movimento artístico que de Norte a Sul mantém permanentemente uma actividade diária de produção cultural num meio dum mar de contradições, emoções, angústias, é falar da nossa história popular.

Não daquela das revistas cor – de - rosa, ou dos circos e companhias de gente, que faz da futilidade formas de anestesia dum país adiado.
Falar deste movimento teatral é falar de milhares de homens e mulheres que nas suas comunidades, ou nos grandes centros urbanos, ousam sonhar e fazem das dificuldades a sua matéria - prima de construção artística.

No tecido cultural Português o teatro associativo é uma realidade tão rica que em qualquer país civilizado mereceria o carinho, o agradecimento e o estímulo daqueles que através do voto se transformam em gerentes das nossas vidas.
Num País exigente hoje as nossas televisões não ocupariam as manhãs a explorar duma forma criminosa os dramas pessoais de muitos dos nossos cidadãos.
Hoje as televisões abririam com os rostos iluminados e contagiantes dos amantes do teatro. Faces anónimas que apesar de tudo continuam a lutar, sorrindo, sorrindo sempre, com a convicção de quem sabe que este é um dos caminhos da felicidade.
Encontrar um dia anual para reflexão sobre este movimento sempre foi uma preocupação de algumas organizações que em determinados períodos procuraram organizar e representar este imenso grupo de amantes e enamorados pela arte teatral.
Com o esvaziar da APTA, antiga Associação Portuguesa de Teatro de Amadores, a ideia mais original, interessante e talvez mais definidora da verdadeira identidade desta forma teatral, surgiu pela Companhia Teatral de Ramalde e por essa forma única de encontro teatral que é o Amasporto.
O Dia do Teatro Associativo é por isso um dia que importa colocar nas nossas agendas e espalhar por todo o País.
Unir este imenso movimento em torno de estruturas representativas, é uma tarefa difícil, pela diversidade de propostas dos Grupos, pelas suas diversas formas de organização, pela formação artística variada, pelos meios disponíveis, muitas vezes resultados do bom ou mau humor dos poderes locais.
O caminho mais curto para uma possível unidade de objectivos, é partir pela estrada dos Companheiros de Ramalde para que um dia nos possamos encontrar todos no mesmo cruzamento.
Organizar encontros como o Amasporto, encontros de afectos e de solidariedade, encontros de valorização e agradecimento a homens e mulheres do teatro, que se espalhem como o sangue por todas as veias artísticas do país. Estes encontros de afectos irão aproximar cada vez mais Grupos.
Pequenas acções de cada vez, consolidando-as e diversificando-as, estreitando cada vez mais laços, mais abraços, mais de desejos de reencontro.
Não vejo hoje outro caminho com o individualismo instalado em todos os sectores da Sociedade.
Façamos do dia do teatro associativo, uma verdadeira associação de ideias e propostas.
Mesmo que seja um simples passo, mesmo que este ainda seja simbólico, mesmo que este não seja notícia de primeira página, mesmo que não haja manifestações de rua, mesmo que nos sintamos pessimistas, estes primeiros passos são fundamentais, porque é o inicio dum andar seguro e com futuro.

A todos os companheiros do Teatro Associativo importa saudar, importa apelar para que continuem a ousar, importa pedir para que não desistam.

Continuemos a fazer de cada texto, de cada espectáculo, de cada desafio, de cada contrariedade, o estímulo suficiente que contagie cada um de nós.
O futuro teatral passa por aqui, por estes últimos resistentes do sonho e da utopia.


João Coutinho
Companhia de Teatro do Ribatejo

DIA MUNDIAL DO TEATRO



MENSAGEM INTERNACIONAL DO DIA MUNDIAL DO TEATRO 2006
UM RAIO DE ESPERANÇA
por Víctor Hugo Rascón-Banda
Todos os dias deveriam ser Dias Mundiais do Teatro, porque nestes 20 séculos, a chama do teatro tem ardido constantemente nalgum canto do mundo.Ao teatro, sempre se decretou a morte, sobretudo com o aparecimento do cinema, da televisão e, agora, dos meios digitais.A tecnologia invadiu os cenários e aniquilou a dimensão humana, tentou-se um teatro plástico, próximo da pintura em movimento, que substituiu a palavra. Houve obras sem palavras, ou sem luz ou sem actores, somente máquinas e bonecos numa instalação com múltiplos jogos de luzes. A tecnologia tentou converter o teatro em fogo de artifício ou em espectáculo de feira.Hoje assistimos ao regresso do actor em frente do espectador. Hoje presenciamos o retorno da palavra ao palco.O teatro renunciou à comunicação massiva e reconheceu os seus próprios limites que lhe impõem a presença de dois seres frente a frente comunicando sentimentos, emoções, sonhos e esperanças. A arte cénica está a deixar de contar histórias para debater ideias.O teatro comove, ilumina, incomoda, perturba, exalta, revela, provoca, transgride. É uma conversa partilhada com a sociedade. O teatro é a primeira das artes que se confronta com o nada, as sombras e o silêncio para que surjam a palavra, o movimento, as luzes e a vida.O teatro é um ser vivo que se consome a si mesmo enquanto se produz, mas constantemente renasce das cinzas. É uma comunicação mágica na qual cada pessoa dá e recebe algo que a transforma.O teatro reflecte a angústia existencial do Homem e revela a condição humana. Através do teatro, não falam os seus criadores, mas a sociedade do seu tempo.O teatro tem inimigos visíveis, a ausência de educação artística na infância, que impede a sua descoberta e o seu usufruto; a pobreza que invade o mundo, afastando os espectadores, e a indiferença e o desprezo dos governos que deviam promovê-lo.No teatro falavam os deuses e os homens, mas agora o homem fala para outros homens. Para isso o teatro tem de ser maior e melhor que a própria vida. O teatro é um acto de fé no valor de uma palavra sensata num mundo demente. É um acto de fé nos seres humanos que são responsáveis pelo seu destino.É necessário viver o teatro para entender o que se passa, para transmitir a dor que está no ar, mas também para vislumbrar um raio de esperança no caos e pesadelo quotidianos.Longa vida aos oficiantes do rito teatral! Viva o teatro!
Tradução: Instituto das Artes - Gabinete de Teatro e Gabinete de Comunicação
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O Dia Mundial do Teatro foi criado em 1961 pelo Instituto Internacional do Teatro (ITI) e celebra-se anualmente a 27 de Março nos Centros ITI e na comunidade teatral internacional. Organizam-se diversos eventos nacionais e internacionais para assinalar a ocasião. Um dos mais importantes é a circulação da Mensagem Internacional, tradicionalmente escrita por uma personalidade do teatro de dimensão mundial a convite do Instituto Internacional do Teatro.www.iti-worldwide.org
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Víctor Hugo Rascón Banda
Nasceu em 1948 em Uruáchic, uma cidade mineira do norte do México. Saiu muito cedo da sua pequena localidade para continuar os seus estudos de advocacia. Em 1979 escreveu a sua primeira obra de teatro Voces en el umbral. Los ilegales, a sua primeira peça encenada, marcaria o início de uma carreira assinalada por êxitos de público, assim como o reconhecimento crítico e académico. A sua obra dramática, composta por cerca de meia centena de textos, resulta num espectro significativo que dá conta da complexidade do ser humano e da sua relação com a envolvente social, pois é a sociedade do seu tempo que fala através do criador, assinala Víctor Hugo. Para ele, o teatro é entendido como um contentor dos sonhos e dos pesadelos de toda uma época. A sua obra dramática é uma das mais encenadas e editadas no panorama nacional mexicano.Víctor Hugo já recebeu vários prémios nacionais e internacionais pelas suas obras, tais como: Ramón López Velarde 1979, Teatro Nuestra América 1981, Juan Ruiz de Alarcón 1993 e Rodolfo Usigli 1993. Recentemente recebeu a medalha “Xavier Villaurrutia”, em reconhecimento da sua carreira.É presidente da Sociedad General de Escritores de México, Assessor do Consejo Nacional para la Cultura y las Artes, Tesoureiro da Academia de Artes y Ciencias Cinematográficas, Presidente da Federación de Sociedades Autorales e Vice-presidente da Confederación Internacional de Sociedades de Autores y Compositores.Adaptado do texto de Rocío Galicia - Centro Nacional de Investigación Teatral “Rodolfo Usigli”.
Tradução: Instituto das Artes - Gabinete de Teatro e Gabinete de Comunicação

sábado, março 11, 2006

ACTUALIZA-TE


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